EX-PREFEITOS SOMEM COM DOCUMENTOS. MOJU E CAMETÁ VIRAM CASOS
DE POLÍCIA.
No primeiro dia de trabalho, alguns prefeitos eleitos
tiveram surpresas nada agradáveis. Frota sucateada, prédios públicos sem
estruturas, dívidas e falta de documentos foram algumas das situações mais
embaraçosas. Em Moju, no dia 2 de janeiro, os primeiros papéis que atual
prefeito Deodoro Pantoja da Rocha, conhecido como Ie-ié, do PSDB, recebeu de
seus secretários, foram boletins de ocorrências. Ao chegaram para trabalhar, os
titulares dos órgãos municipais não encontraram documentos, computados e, em alguns
casos, nem mesmo móveis nos prédios públicos e, por isso, foram orientados pelo
atual gestor da cidade e procurarem a delegacia. Segundo o tucano, o problema
atingiu pelo menos 90% das secretarias. Na sede do Poder Executivo do
Município, a situação também é delicada. Documentos foram extraviados e
computados destruídos, alguns foram encontrados sem o HD ou com os dados
deletados. "Nem a bandeira do Brasil, do Pará ou de Moju deixaram",
disse.
A frota também estava sucateada, faltando pneus, sem
gasolina ou com peças retiradas. Atualmente, Ie-ié afirma que nenhum carro da
prefeitura está funcionando. "Está tudo na garagem, lacrado", diz o
prefeito, que tem usado seu veículo pessoal como meio de transporte. Das 12
ambulâncias, apenas duas estão funcionando e em situação precária. O prefeito
revela, por exemplo, que assim que assumiu precisou fretar um carro para
transportar um paciente do município.
No setor de pessoal não ficou nenhum registro. A atual
administração tem buscado informações com os funcionários efetivos. "O que
eu tenho percebido é que alguns funcionários, como uma forma de se precaver,
salvaram algumas informações em pen-drive, prevendo que tudo fosse ser
deletado. Eles chegam para a gente e nos passaram. É assim que a gente tem
contornado a situação", explica.
Não houve processo de transição no município porque, de
acordo com o Ie-ié, o antigo prefeito, Iran Lima, do PMDB, não aceitou receber
sua equipe e não passou qualquer informação. Agora, com esses problemas todos e
os caixas da prefeitura zerados, o tucano tem pedido para seus secretários
elaborarem um relatório sobre o que está faltando nos órgãos. Além disso,
alguns contratos de trabalho foram cancelados, menos em áreas essenciais, como
a de saúde. "Eu estou fazendo isso para ver a real necessidade e, na
medida que começar a entrar dinheiro, ver o que pode ser feito
prioritariamente. Vou me desdobrar aqui como for possível", afirmou.
Memória administrativa é levada embora
Em Cametá, Irácio Nunes (PT) e sua equipe também tomaram um
susto assim que entraram no prédio da Prefeitura, no dia 2 de janeiro, para
darem início aos trabalhos. Vários papéis rasgados estavam espalhados pelos
corredores e salas, os arquivos estavam vazios e o HDs tinham sido trocados, ou
seja, os computadores não tinham nenhum tipo de informação. No forro foram
encontrados documentos queimados, aparentemente notas internas de pagamentos.
"Não houve transição e, quando chegamos, encontramos a Prefeitura desse
jeito", declarou Irácio.
Ele afirma que não houve transição porque o antigo gestor,
José Waldoli Filgueira Valente (PSD) não recebeu a comissão que o prefeito
eleito tinha montado para tratar do assunto. "Não temos nenhum documento
de contrato. Absolutamente nada", afirma. Segundo Irácio, peritos do
Centro de Perícias Renato Chaves estiveram no local verificando a situação e
recolhendo alguns materiais, inclusive os papéis encontrados queimados no
forro, para a elaboração do laudo. Mas assessoria de imprensa do órgão em Belém
informou que não tem registro dessa ação em Cametá.
Os papéis encontrados no chão, afirma Irácio, eram
documentos públicos e estavam todos rasgados. O prefeito se diz preocupado, uma
vez que precisa dos arquivos contábeis, jurídicos, relação de funcionários e
outros dados, que não foram deixados. "Estamos conseguindo a relação de
funcionários só agora, com uma pessoa que mexia com a folha de pagamento na
gestão passada", revela. Além disso, ele alega que mais de R$ 40 milhões
em dívidas com o INSS foram deixados pela gestão passada.
DESTRUIÇÃO ATINGE FINANÇAS E JURÍDICO
Nos órgãos municipais de Cametá o problema é o mesmo. As
máquinas da Secretaria de Obras, por exemplo, estão paradas. Uma ambulância
também não está funcionando na área de saúde. Várias secretarias também
encontraram computadores destruídos. Nas áreas de Finanças e Jurídica, não
restou nenhum documento. Irácio montou uma equipe jurídica para fazer um
levantamento da situação. "Estamos montando todo o processo e vamos encaminhar
para as autoridades competentes", afirmou o prefeito, que já prestou
ocorrência na delegacia municipal. Os ex-prefeitos de Moju, Iran Lima, e
Cametá, Waldoli Valente, não foram encontrados pela reportagem. O presidente da
Câmara Municipal de Cametá prometeu apurar as denúncias de sumiço de documentos.
(Amazônia – ORM)
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