Hélio Schwartsman, é articulista do jornal Folha
de São Paulo. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo
de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. |
SÃO PAULO - Hoje eu vou divergir do amigo e mestre Clóvis
Rossi que, em sua coluna dominical, disse que as democracias estão fracassando,
já que não conseguem processar as demandas das diversas manifestações de massa
a que vêm sendo submetidas nas últimas décadas.
Precisamos, antes de mais nada, desfazer alguns equívocos sobre a democracia. Ela até que funciona, mas não pelas virtudes que normalmente lhe atribuímos. Para começar, é preciso esquecer o mito do eleitor racional que compara propostas, as analisa e toma a melhor decisão. Se há um momento em que o cidadão tende a ser especialmente emocional, é o instante do voto. A coisa só dá certo porque, em condições ordinárias, as posições mais extremadas tendem a anular-se, empurrando a escolha para grupos menos radicais.
A democracia também não tem o dom de eliminar os conflitos presentes na sociedade. O que ela procura fazer é institucionalizá-los e discipliná-los, para que se resolvam da forma menos violenta possível. Daí que é impossível e indesejável eliminar completamente o caráter meio baderneiro de protestos e atos públicos.
Voltando às considerações de Rossi, eu não diria que o fato de as ações de movimentos como "Occupy" e "Indignados" não terem se materializado em propostas concretas signifique uma derrota. Ao contrário, mesmo com sua pauta imprecisa e vagamente metafísica, eles contribuíram para modificar as percepções de governantes e da própria sociedade. Pela primeira vez, norte-americanos estão discutindo seriamente o problema da desigualdade social. Esses jovens, com seus acampamentos, cartazes bem-humorados e doses até que moderadas de violência conseguiram afetar o "Zeitgeist" (espírito da época), o que não é pouca coisa.
É evidente, porém, que a democracia não opera milagres. Ela não vai resolver a crise econômica nem diminuir os efeitos sociais perversos da perda de confiança no futuro.
Precisamos, antes de mais nada, desfazer alguns equívocos sobre a democracia. Ela até que funciona, mas não pelas virtudes que normalmente lhe atribuímos. Para começar, é preciso esquecer o mito do eleitor racional que compara propostas, as analisa e toma a melhor decisão. Se há um momento em que o cidadão tende a ser especialmente emocional, é o instante do voto. A coisa só dá certo porque, em condições ordinárias, as posições mais extremadas tendem a anular-se, empurrando a escolha para grupos menos radicais.
A democracia também não tem o dom de eliminar os conflitos presentes na sociedade. O que ela procura fazer é institucionalizá-los e discipliná-los, para que se resolvam da forma menos violenta possível. Daí que é impossível e indesejável eliminar completamente o caráter meio baderneiro de protestos e atos públicos.
Voltando às considerações de Rossi, eu não diria que o fato de as ações de movimentos como "Occupy" e "Indignados" não terem se materializado em propostas concretas signifique uma derrota. Ao contrário, mesmo com sua pauta imprecisa e vagamente metafísica, eles contribuíram para modificar as percepções de governantes e da própria sociedade. Pela primeira vez, norte-americanos estão discutindo seriamente o problema da desigualdade social. Esses jovens, com seus acampamentos, cartazes bem-humorados e doses até que moderadas de violência conseguiram afetar o "Zeitgeist" (espírito da época), o que não é pouca coisa.
É evidente, porém, que a democracia não opera milagres. Ela não vai resolver a crise econômica nem diminuir os efeitos sociais perversos da perda de confiança no futuro.
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