Martha Medeiros é escritora e colunista dos
jornais Zero Hora, de Porto Alegre, e O Globo, do Rio de Janeiro. |
Quando era criança, assistia a filmes e novelas românticas e
pensava: será que um dia escutarei “eu te amo” de alguém? É bem verdade que
ouvia todo dia da minha mãe, mas não era do mesmo jeito que o Francisco Cuoco
dizia para a Regina Duarte. Eu sonhava com o “te amo” apaixonado, dito por um
homem lindo, e com a voz um pouco trêmula, para deixar sua emoção bem evidente.
Será que era invenção do cinema e da tevê, ou essas coisas poderiam acontecer
mesmo?
Passou o tempo. Cresci, ouvi e retribuí. Clichê? Que seja, mas não há quem não se emocione ao escutar e ao dizer, ao menos nas primeiras vezes, em pleno encantamento da relação, quando a declaração ainda é fresca, pungente, verdadeira, a confirmação de algo estupendo que se está experimentando, um sentimento por fim alcançado e que se almeja eterno. Depois ele entra no circuito automático, vira aquele “te amo” dito nos finais dos telefonemas, como se fosse um “câmbio, desligo”.
O tempo seguiu passando, e me encontro aqui, agora, descobrindo que há outro tipo de “te amo” a ser escutado e falado, diferente dos que acontecem entre pais e filhos e entre amantes. É quando o “te amo” não é dito a fim de firmar um compromisso, para manter alguém a par das nossas intenções ou experimentar uma cena de novela. Ele vem desvinculado de qualquer mensagem nas entrelinhas, não possui nenhum caráter de amarração e tampouco expectativa de ouvir de volta um “eu também”. É singular. Estou falando do amor declarado não só quando amamos com romantismo, mas também de outra forma. Continue lendo....
Explico: tenho dito “te amo” para amigas e amigos e escutado deles também. Uma
declaração bissexual e polígama, que resgata esse sentimento das garras da
adequação. Volta a ser o amor primitivo, verdadeiro, sem nenhuma simbologia,
puro afeto real. Amor por pessoas que não conheci ontem num bar, e sim por quem
já tenho uma história de vida compartilhada.Passou o tempo. Cresci, ouvi e retribuí. Clichê? Que seja, mas não há quem não se emocione ao escutar e ao dizer, ao menos nas primeiras vezes, em pleno encantamento da relação, quando a declaração ainda é fresca, pungente, verdadeira, a confirmação de algo estupendo que se está experimentando, um sentimento por fim alcançado e que se almeja eterno. Depois ele entra no circuito automático, vira aquele “te amo” dito nos finais dos telefonemas, como se fosse um “câmbio, desligo”.
O tempo seguiu passando, e me encontro aqui, agora, descobrindo que há outro tipo de “te amo” a ser escutado e falado, diferente dos que acontecem entre pais e filhos e entre amantes. É quando o “te amo” não é dito a fim de firmar um compromisso, para manter alguém a par das nossas intenções ou experimentar uma cena de novela. Ele vem desvinculado de qualquer mensagem nas entrelinhas, não possui nenhum caráter de amarração e tampouco expectativa de ouvir de volta um “eu também”. É singular. Estou falando do amor declarado não só quando amamos com romantismo, mas também de outra forma. Continue lendo....
Amor manifestado espontaneamente àqueles que não me exigem explicações, que apoiam minhas maluquices, que fazem piada dos meus defeitos, que já tiveram acesso ao meu raio X emocional e sabem exatamente o que levo dentro – e eu, da mesma forma, tudo igual em relação a eles. Mais do que nos amamos – nos sabemos.
É um “te amo” que cabe ser dito inclusive aos ex-amores, ao menos aos que nos marcaram profundamente, aos que nos auxiliaram na composição do que nos tornamos, e que mesmo nos tendo feito sofrer, foram fundamentais na caminhada rumo ao que somos hoje. E indo perigosamente mais longe: esse ex-amor pode ainda ser seu marido ou sua mulher, mesmo já não fazendo seu coração saltar da boca. Pelo trajeto percorrido, e por ter alcançado o posto de um amigo mais que especial, merece uma declaração igualmente comovida.
É quando o “eu te amo” deixa de ser sedução para virar celebração.
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