É colunista e jornalista membro do conselho editorial do
jornal Folha de São Paulo.
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Os entrevistados e os que escreveram sobre a queda de oito
pontos na avaliação positiva de Dilma Rousseff, constatada pelo Datafolha,
expõem uma visão peculiar em dois sentidos. Primeiro, e mais importante, no que
se pode ter como a unânime (sem os petistas) visão de um significado de extrema
força, na perda. Segundo, pela maneira também unânime como a inflação é vista
nas avaliações, um fato com consequência política, mas sem antecedente
político.
Por um gráfico da Folha de ontem, via-se que Fernando Henrique
chegou aos dois anos e meio do primeiro mandato com avaliação de presidente
ótimo/bom por 39% dos entrevistados. Lula chegou aos primeiros dois anos e meio
do seu governo com avaliação ainda mais baixa, de 36%. E com avaliação de
regular e ruim/péssimo altíssima, somados, de 63%, contra sofríveis 58% de
Fernando Henrique.
Mesmo com a perda de oito pontos em idênticos dois anos e
meio do seu mandato, Dilma Rousseff ainda recebe 57% de conceito ótima/boa
presidente. Mais 18 pontos do que Fernando Henrique e 21 acima de Lula. E, na
soma dos conceitos regular e ruim/péssima, os seus 42% são 16 pontos menores
que os de Fernando Henrique e 21 menores que os de Lula. Continue lendo...
Ainda uma constatação curiosa: entre o Datafolha de março e
o de agora, intervalo em que se registra a perda dos oito pontos, a opinião de
regular e ruim/péssima sobre Dilma aumentou apenas um ponto, de 41% para 42%
--na margem de erro, portanto.
Que efeito tiveram aqueles humilhados números de Fernando
Henrique e de Lula na busca das respectivas reeleições? Rigorosamente nenhum.
Nem mesmo algum efeito dificultante do processo de construção, nos meses
seguintes, das duas vitórias.
A vantagem imensa de Dilma Rousseff na comparação com os
dois antecessores não é uma promessa de vitória, se candidata à reeleição. Mas
muito menos pode servir de base, a meu ver, quer para a dedução de perspectivas
eleitorais sombrias já a esta altura, quer até mesmo de uma situação com
tendência razoavelmente nítida de agravamento.
As deduções mais negativas correspondem, suponho, ao clima
propagado nos meses em que se deu a perda dos oito pontos por Dilma. Pode-se
dizer que, nos comentários todos, a inflação é a causa da perda. Ou a
principal. A pesquisa contém indício claro nesse sentido. Mas o que a mim
parece também claro é que não foi propriamente a inflação sentida, foi a
inflação ouvida e lida. Posta nas cabeças pela artilharia com que os meios de
comunicação fazem os índices vizinhos do limite, a tal "meta"
estabelecida há meses, parecerem uma explosão inflacionária.
A luta por uma inflação domada tem perdido sucessivos
rounds, mas não houve até agora, nem se mostra como provável, descontrole de
fato assustador. Há duas inflações: uma real, indesejável mas suportável, e
outra originária de intenções políticas.
SEM PROBLEMA
Esperada para amanhã a decisão do Supremo sobre o projeto
que dificulta mais partidos, a eventual derrota da liberdade total de criá-los
não dificulta a candidatura de Marina Silva --como está divulgado com
frequência. Não é indispensável que tenha o seu próprio partido, a pretendida
Rede Sustentabilidade, porque lhe estão oferecidas as legendas do Partido Verde
e da Mobilização Democrática (ex-PPS). A ameaça é só onda.
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