sexta-feira, 5 de julho de 2013

A questão racial é complicada. A grande maioria dos parados e apalpados são negros e latinos nos bairros onde o índice de crimes é mais alto. Eles cometem mais de 90% dos crimes na cidade e mais de 90% das vítimas são negros e latinos.

Lucas Mendes Campos nasceu em Belo Horizonte, é jornalista e apresentador de televisão, fez carreira no Rio de Janeiro, tornou-se correspondente em Nova York onde reside atualmente.
Pliiisi. Pliisi. Nunca fui apalpado pela polícia de Nova York. Uma injustiça. Sou latino e exijo minha apalpada.
Apalpam mais de 500 mil negros e latinos por ano, qual é o meu problema? Mitch Schwartz tem cabelos brancos como eu e já foi revistado 12 vezes.
A qualquer hora deve sair a decisão da juíza federal Shira Scheindlin que vai mexer com a apalpação da polícia. O caso Floyd x Nova York envolve direitos civis e já está em julgamento há dois meses.
Os queixantes acusam a polícia de abordar e revistar milhares de pessoas nas ruas de Nova York só porque são negros ou latinos. Uma violação da 4ª emenda (constitucional) que protege contra buscas sem motivo.
Pelos sinais que vêm do tribunal, a juíza vai dar uma apalpada legal no prefeito e na polícia. Ferro neles.
O número pessoas abordadas que são presas ou multadas por algum crime não chega a 10%. A juíza ironizou o "faro" dos policiais que apalpam 90% inutilmente.
O índice de homicídios em Nova York cai tanto que deixou de ser notícia. Uma injustiça. Do ano passado para cá, neste primeiro semestre, a queda foi de 25%, e hoje estamos a menos de uma morte por dia. Pré 1950.
A polícia atribui a redução a uma supervisão mais intensa de parceiros agressivos e a um novo método de lidar com crimes entre as gangues. Mas numa perspectiva mais longa, de dez anos, a lei do Stop and Frisk, Parar e Apalpar, de 2002, na versão do prefeito e do chefe de polícia, foi uma das principais responsáveis pela redução do crime em Nova York. Continue lendo...
O chefe usa dois números. Na década anterior ao prefeito Bloomberg e ao "Parar e Apalpar", 12 mil pessoas foram assassinadas na cidade. Desde a posse do prefeito, o número caiu para 5 mil.
Os jornais, entre eles o New York Times, colocaram os contadores para conferir e revelaram que, por causa das críticas, o número de apalpadas do ano passado para cá caiu 25% e o número de crimes caiu exatamente na mesma proporção. Menos revistas, menos crimes. Como o prefeito e o chefe de polícia explicam esta coincidência?
Eles dizem que quando muitos bandidos sabem que podem ser abordados deixam as armas em casa. Mais de 8 mil armas foram confiscadas em dez anos. Quantos crimes foram evitados? Ninguém sabe.
A questão racial é complicada. A grande maioria dos parados e apalpados são negros e latinos nos bairros onde o índice de crimes é mais alto. Eles cometem mais de 90% dos crimes na cidade e mais de 90% das vítimas são negros e latinos.
Mas, como observou a juíza, 90% são abordados inutilmente.
Resposta do chefe Kelly: "Os negros representam 23% da população da cidade. Devemos abordar só 23% dos negros? Os homens são 50% da população e responsáveis por 90% dos crimes. Devemos, pela lógica das percentagens, abordar só 50% dos homens?"
Os brancos cometem 6% dos crimes e representam 13% dos apalpados. O prefeito diz que os brancos têm mais motivos para protestar porque são proporcionalmente duas vezes mais abordados do que os negros e os latinos.
Por lei, cada abordagem da polícia e todos os contatos com a população são cadastrados, até informações para turistas.
Com uma eleição pela frente, os números viraram parte do futebol político. A Câmara dos Vereadores atropelou o prefeito com duas leis. Uma propõe a criação de um supervisor acima do chefe de polícia e outra autoriza os abordados a processar a cidade. Vão castrar a apalpação.
Bloomberg prometeu vetar as duas leis e, se perder, vai investir milhões - ele tem bilhões- nas campanhas pró apalpadores.
Pela porcentagem de crime por mil habitantes, Nova York é quatro vezes mais segura do que Oslo e duas vezes mais do que Copenhagem. Deve ser manipulação estatística, mas nunca me senti tão seguro numa cidade.
Todas as vezes que viajo entro numa fila, tiro sapato, o cinto, esvazio os bolsos, disparo o alarme e sou apalpado. Qual o problema de ser apalpado na rua? Por favor, seu guarda, apalpe. Por favor, outra vez.
Quiz
Entre as quarenta cidades mais violentas do mundo, quantas são brasileiras?
Entre elas, qual a campeã?
Quantas mexicanas e quantas americanas estão entre as quarenta?
Resposta: O Brasil lidera com 13 cidades. O México vem em segundo com 10. Os Estados Unidos têm três e não estão entre as dez primeiras.
San Pedro de Sulla, em Honduras, aparece em primeiro lugar. Juarez, no México em segundo, e Maceió, em terceiro.

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