CRIANÇAS PARTICIPAM DE 80% DAS DECISÕES DE COMPRA DA
FAMÍLIA, APONTA INSTITUTO
Carolina Sarres - Repórter da Agência Brasil
Brasília - As crianças chegam a participar de 80% das
decisões de compra em uma família - do vestido da mãe ao carro, apontam dados
estatísticos do Instituto Alana, organização sem fins lucrativos voltado ao
direito das crianças e dos adolescentes. Levantamento do instituto indica que,
em 60% das compras de automóveis, por exemplo, as crianças são consultadas. Os
dados foram apresentados nesta terça (5) na abertura dos seminários Infância e
Comunicação: Marcos Legais e Políticas Públicas, na Câmara dos Deputados.
"Daí a importância desse público ser visto como
influenciador e promotor de vendas", explicou o advogado da área de Defesa
do Instituto Alana, Pedro Hartung. Ao longo do dia, três meses de debate ainda
vão discutir classificação indicativa e proteção da imagem da criança e do
adolescente na mídia na Câmara.
Desde o dia 1º de março, estão proibidas ações de merchandising (publicidade
indireta inserida em programas, com a exposição de produtos) dirigidas ao
público infantil em programas criados ou produzidos especificamente para
crianças em qualquer veículo. Há 12 anos, tramita no Congresso o Projeto de Lei
5.921/2001 sobre publicidade e comunicação dirigidas a esse público.
Segundo uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), a
criança e o adolescente brasileiros (0 a 17 anos) passam, em média, cerca
de cinco horas e dezessete minutos em frente à televisão. Para a
diretora associada do Centro de Mídia Infantil Judge Baker, nos Estados Unidos,
e autora do livro Criança do Consumo, Susan Linn, o marketing infantojuvenil
é um negócio lucrativo. Ela informou que, nos Estados Unidos, são gastos mais
de U$ 17 bilhões anualmente.
"Pesquisas mostram que a comercialização da vida das
crianças é um fator que contribui para a epidemia da obesidade, a violência
entre adolescentes, a sexualidade precoce e o estresse familiar. Além disso,
faz que haja a erosão de brincadeiras que envolvem a criatividade, importantes
para o desenvolvimento do cérebro, o fundamento do pensamento crítico, do
aprendizado e da disciplina", disse Susan.
De acordo com a pesquisadora, crianças norte-americanas de
menos de 2 anos chegam a gastar, em média, duas horas por dia na frente de uma
tela - assistindo televisão ou a vídeos na internet. Segundo ela, a incidência
de horas é ainda mais alta entre crianças de famílias de baixa renda. A
diretora defende que o Poder Público empenhe esforços para impor limites ao
tempo que as crianças gastam assistindo televisão.
Para a representante da Secretaria Nacional do Consumidor
(Senacon), do Ministério da Justiça, Juliana Pereira da Silva, a criança e o
adolescente são considerados consumidores por equiparação, de acordo com o
Código de Defesa do Consumidor (CDC), com a diferença de serem mais
vulneráveis.
"Diante de um serviço ou produto, as pessoas são vulneráveis.
Isso não tem a ver com a capacidade de discernimento. A violação desses
direitos pode ser dar em uma situação que foge ao controle do consumidor ou no
caso de um produto que não funciona, por exemplo. Se o adulto é vulnerável, a
criança é mais ainda", explicou Juliana. (Edição: Carolina Pimentel)
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