Editorial Zero Hora
A APROPRIAÇÃO DO
ESTADO
ZERO HORA - 02/05
À medida que começam a vir a público detalhes sobre o esquema de fraudes na
área do meio ambiente, percebe-se, mais uma vez, que a ação criminosa
fundamenta-se em dois eixos principais: a apropriação do Estado por grupos
organizados e o uso dos recursos desviados em campanhas eleitorais. Esta
constatação remete à questão que nenhum político ousa responder: por que a
administração pública brasileira, em todos os níveis, tem que ser rateada entre
feudos partidários de apoiadores do poder? Os exemplos domésticos não deixam
dúvidas. Um partido é "dono" do Detran, outro se apropria da Fepam,
um terceiro comanda determinada secretaria, um quarto vira intermediário de
assuntos do governo _ e assim o Estado passa a servir a grupos políticos e
pessoas, deixando em segundo plano os interesses da sociedade que seriam melhor
atendidos com administradores técnicos e apartidários. Sem corrigir esse vício
de origem da política nacional, vamos continuar convivendo com fraudes
sistemáticas.
Porém, enquanto não sai a desejada (e sempre adiada) reforma política, a
alternativa é desenvolver mecanismos preventivos contra os efeitos deletérios
dessas alianças de interesse que praticamente todos os governantes utilizam
para administrar com pouca oposição. Bastaria, por exemplo, contratar bons
sistemas de auditoria para detectar eventuais irregularidades e garantir a
probidade em secretarias e órgãos da administração pública que atuam de forma
quase independente em relação ao Executivo. Aos governos já não basta mais
apenas afastar assessores suspeitos e alegar que não sabiam de nada. Hoje
existem ferramentas de gestão eficientes para um controle efetivo da
administração.
Depois do mensalão, era de se esperar que os administradores federais,
estaduais e municipais multiplicassem a cautela em relação à distribuição de
cargos para aliados políticos. A chamada faxina ética, promovida pela
presidente Dilma Rousseff, passou a impressão de que os governantes não
tolerariam mais apoio de outros partidos à custa de irregularidades e de
apropriação indevida do Estado. Mas nem o governo federal renunciou às alianças
espúrias nem os administradores estaduais e municipais deixaram de contemplar
partidos da base de apoio com secretarias e postos importantes da
administração. E não há a mínima hipótese de que esta política de
compartilhamento seja revisada na antevéspera de um novo ano eleitoral.
Neste cenário, com a oposição fragilizada e com várias agremiações políticas
agregadas ao poder, é essencial que instituições independentes como o
Ministério Público, a Polícia Federal, o Judiciário e a imprensa exercitem suas
atribuições fiscalizatórias de forma cada vez mais intensa e persistente. É o
antídoto de que o país dispõe para tanto descontrole.
0 comentários:
Postar um comentário