CARNE DE RATO É APREENDIDA EM NOVO ESCÂNDALO ALIMENTAR NA
CHINA
MARCELO NINIO (Folha
Online) - DE PEQUIM
Mais de 900 pessoas foram presas na China por vender carne
falsa e contaminada, no mais recente caso de insegurança alimentar.
Após uma série de escândalos nos últimos anos, o problema
gera nova onda de desconfiança sobre a qualidade dos alimentos no país.
Temendo instabilidade social, o governo tem tentado mostrar
serviço, divulgando operações de vigilância sanitária como a que levou às
recentes apreensões.
Segundo a mídia estatal, a vigilância sanitária descobriu
cerca de 400 casos de carne imprópria para o consumo e confiscou um total de 20
mil toneladas do produto.
Numa das apreensões, os suspeitos vendiam falsa carne bovina
e de carneiro produzida com restos de raposa, marta e ratos, após adicionarem
produtos químicos.
Houve ainda casos de carne estragada com conservantes e água
injetada, para aumentar o peso, porcos doentes e frangos com químicos
venenosos, disse o ministério de Segurança Pública.
"Devido à tentação de aumentar os lucros e às falhas na
fiscalização pelos setores competentes, os crimes de segurança alimentar
continuam graves", disse ao diário estatal "China Daily" o
assessor de imprensa do ministério, Zhang Hongqiang.
Quem vive na China se habitou com histórias de revirar o
estômago sobre a comida que consome, de óleo de esgoto reaproveitado em
restaurantes a melancias que explodem por excesso de produtos químicos. Continue lendo...
Em março, milhares de porcos mortos surgiram boiando em
estado de decomposição num rio perto de Xangai, supostamente lançados por
criadores que detectaram doenças nos animais. A nova liderança do país, que
tomou posse em março, afirmou que o combate à insegurança alimentar é uma de
suas prioridades.
A pressão sobre o governo aumentou nos últimos anos,
sobretudo desde que pelo menos seis crianças morreram e milhares ficaram
doentes em 2008, após consumir leite em pó com melamina, substância usada para
adulterar o nível de proteína.
A desconfiança em relação a leite adulterado e produtos
agrícolas cheios de pesticidas se estende agora à carne. Sem falar na drástica
queda nas vendas de frango e pato nos últimos meses, devido a um novo surto de
gripe aviária surgido no país que já matou 27 pessoas.
A batida policial nas carnes contaminadas coincidiu com a
divulgação pela mais alta corte do país, nesta sexta-feira, de diretrizes mais
clara para punir crimes de segurança alimentar.
A Corte Suprema do Povo afirmou que 2.088 pessoas foram
processadas por tais crimes entre 2010 e 2012.
No ano passado, 146 pessoas morreram por intoxicação
alimentar no país, estima o ministério da Saúde, alta 6% em relação a 2011.
Especialistas afirmam, porém, que o problema não é a falta de leis, mas a
precária estrutura para aplicá-las, agravada pela corrupção entre autoridades
sanitárias.
"Não basta a polícia se mobilizar em batidas de curto
prazo só porque as notícias de porcos mortos em rios despertaram preocupação
social", disse o criminalista Wu Mingan à agência de notícias estatal.
Diante do controle do governo sobre a circulação de
informação, a suspeita é que muitos outros escândalos sejam acobertados pela
censura oficial.
Num dos únicos foros de livre expressão do país, o microblog
Weibo (versão chinesa do Twitter), o caso mais recente recebeu centenas de
comentários, muitos ensinando a diferenciar entre carne de rato e de carneiro.
A maioria dos usuários manifestou revolta com a falta de
escrúpulos dos comerciantes. "Se um dia a China acabar não será culpa dos
americanos nem dos japoneses, mas dos próprios chineses", disse o usuário
identificado como Zhenjia20.
"Leite contaminado por melamina, óleo de esgoto, porco
com água injetada, carneiro feito de ratos...Faltam moral e consciência aos
comerciantes chineses". (Folha
Online)
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