Lucas Mendes Campos nasceu em Belo Horizonte, é
jornalista e apresentador de televisão, fez carreira no Rio de Janeiro, tornou-se
correspondente em Nova York onde reside atualmente. |
Nas décadas de 70, 80 e 90 estavam nas primeiras páginas e nos jornais
nacionais. Florestas em chamas ou serradas, garimpeiros assassinados por
madeireiros, índios aos gritos de guerra e dor, fauna e flora em liquidação.
Ou cansamos do drama dos índios e das selvas ou os problemas estão bem encaminhados. Notícia boa não é boa notícia para as manchetes. O cientista Mark Plotkin acha que é caso de tigela meio cheia e meio vazia. Metade vai bem, metade vai mal.
Ele tem um bom medidor. Há trinta anos leva mordidas de mosquitos, come e bebe as maravilhas e venenos da selva. Hoje é presidente do Amazon Conservation Team, ACV, criada por ele, que joga na defesa de índios e selvas. Outras ONGs protegem um ou outro. A ACV acredita que um não vive sem o outro, embora ele admita que na Costa Rica os índios se foram e a selva ficou - e vai bem.
Em 1993, Mark Plotkin publicou um livro que teve impactos, positivos e negativos: Tales of a Shaman's Apprentice (Contos de um Aprendiz de Pajeh em português), em que descrevia suas experiências na selvas da Amazônia sobre medicina indígena e os pajés. Plotkin é um etnobotânico, um cientista que estuda nossas relações com as plantas, em um campo além da jardinagem.
Ele estava a serviço da Shaman Phamaceuticals, que tinha apostado milhões de dólares nos segredos curativos da selva. O principal alvo de Plotkin era o diabetes, que tinha matado as duas avós, era e ainda é uma das pragas americanas. Continue lendo...
Na tribo, descreveu a doença e acompanhou o pajé na caminhada que recolheu
ervas, cascas de árvores, preparou sucos, cozinhou numa panela e deu a uma
jovem índia que parecia um caso terminal de diabetes. De um dia para outro, o
nível do açúcar tinha baixado e em pouco tempo ela estava na horta. Esta cura
milagrosa mereceu destaque no New York Times.Ou cansamos do drama dos índios e das selvas ou os problemas estão bem encaminhados. Notícia boa não é boa notícia para as manchetes. O cientista Mark Plotkin acha que é caso de tigela meio cheia e meio vazia. Metade vai bem, metade vai mal.
Ele tem um bom medidor. Há trinta anos leva mordidas de mosquitos, come e bebe as maravilhas e venenos da selva. Hoje é presidente do Amazon Conservation Team, ACV, criada por ele, que joga na defesa de índios e selvas. Outras ONGs protegem um ou outro. A ACV acredita que um não vive sem o outro, embora ele admita que na Costa Rica os índios se foram e a selva ficou - e vai bem.
Em 1993, Mark Plotkin publicou um livro que teve impactos, positivos e negativos: Tales of a Shaman's Apprentice (Contos de um Aprendiz de Pajeh em português), em que descrevia suas experiências na selvas da Amazônia sobre medicina indígena e os pajés. Plotkin é um etnobotânico, um cientista que estuda nossas relações com as plantas, em um campo além da jardinagem.
Ele estava a serviço da Shaman Phamaceuticals, que tinha apostado milhões de dólares nos segredos curativos da selva. O principal alvo de Plotkin era o diabetes, que tinha matado as duas avós, era e ainda é uma das pragas americanas. Continue lendo...
Bem como o fracasso do remédio, quando foi trazido e testado no laboratório da empresa. E de outro, vindo da casca de uma árvore, contra diarreia. As ações da empresa foram a zero. Bye, bye, pajelança.
Quase 20 anos depois, Mark Plotkin ainda aposta nos índios, nas selvas, nos pajés e no GPS. Sua ONG conseguiu um importante aliado, o Google e seus mapas.
Em vez de mapear as reservas indígenas, Plotkin e Google ensinaram os índios como se faz um mapeamento com o GPS. Quando um garimpeiro ou um madeireiro chega na tribo com um mapa e dizem aos índios onde vão minerar ou cortar árvores, os índios sacam seus próprios mapas. Pá! Fim de papo.
Plotkin está mais ativo entre as tribos do Suriname e da Colômbia, onde ele vê um governo mais atuante na proteção dos índios e das selvas. Mas e a medicina da pajelança? Todas aquelas promessas de ervas, folhas, frutas, raízes e cascas milagrosas?
Continuam suspeitas e deram pouquíssimos frutos. Os produtos das nossas plantas venderam US$ 150 milhões no Brasil em 2008, um número centesimal comparado com as vendas destes tipos de produtos nos Estados Unidos (US$ 250 bilhões).
Na sua tese de doutorado, a professora Andreia Mara Pereira, da Unicamp, informa que os chineses usam produtos medicinais de 26 mil árvores. O Brasil não está nem entre os 10 primeiros países consumidores de plantas medicinais, embora nossa Amazônia tenha um quarto das espécies de plantas do mundo.
O professor José Maria da Silveira, do Instituto de Economia da Unicamp, me mandou uma lista que vai da letra A à H e outros argumentos fora do alfabeto para explicar os fracassos, as dificuldades e as complicações das nossas leis e nossos políticos na biotecnologia. Os tratados e leis internacionais não andam. Ele diz que o Brasil se queixa da biopirataria, mas é um biopirata, "talvez o maior biopirata do mundo".
Há mais de 10 anos, o governo brasileiro criou o CBA, Centro de Biotecnologia da Amazônia. Adriano Andricopulo, professor da USP, diz que o país tem ótima infraestrutura e um número significativo de laboratórios e pesquisadores, "mas o Brasil ainda não desenvolveu um único fármaco (produto farmacêutico) a partir de suas fontes naturais". Entre os absurdos, ele cita a copaíba: "O Brasil tem o maior número de publicações científicas sobre a copaíba e não temos patentes sobre o insumo. Outros países, como os Estados Unidos, já registraram diversas patentes".
E os afrodisíacos amazônicos? Mark Plaktin levou dois para os laboratórios de Harvard: brocharam, concluíram os pesquisadores. Descobriu um terceiro, mas nem levou para o laboratório. Já tinha sido descoberto, por acaso, o Viagra.
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