Nelson Vinencci é músico e compositor amazônico e escreve aqui no Espalha Brasa |
Curiosamente visitei o Google no celular e apareceu em um
site desses de horóscopo o seguinte: “Fevereiro é um mês importante, o mês
começa com Mercúrio unido ao Sol em Aquário, o que é um ótimo aspecto para as
comunicações, a publicidade, as amizades e a vida social”... Então pensei; e eu
com isso? Queria outras palavras...
O mês de fevereiro é o mais importante para os brasileiros, porque
tem o carnaval, cachaçada, e a sacanagem se liberta na euforia da alma do
brasileiro, eu agora já quase com meio século de vida, nunca fui amante do
carnaval, até que tentei, mas fico triste na folia, nunca descobri por que, e
nem quero...
Ao ver a chuva carnavalesca que caia fora do Bar Mascote, me
veio repentinamente lembranças da minha infância em Oriximiná, era em dias
chuvosos de fevereiro que costumava-mos em casa a fazer uma panelada de mingau
de jerimum com arroz.
Então íamos para o quarto, eu e meus irmãos, cada um com uma
cuia de mingau, já bem empoado de canela, em direção das redes, e conversávamos
sobre o mundo caboclo nosso daqueles dias, que vivíamos sem muita frescura, mas
apenas com a razão de existir.
Eu moleque traquino, pulador dos quinteirais, vivia cheio de
pereba nas pernas e a mais comum micose daquela época o ‘mijacão’ que aparecia
na gente, por pisar em merda de gado, era uma doencinha furreca, que coçava o
vão dos dedos, mas coçava gostoso.
Assim me aprumava na rede bem baixinha, com a cuia de mingau
já na base da raspa da cuia, e enfiava a beira da rede entre o vão do dedão,
empestado de mijacão e roçava num vai e vem, atiçando uma coceira das mais
gostosas que um curumim como eu poderia sentir naquele momento da vida.
Roçava, roçava, até esquentar o dedo, aí após a coceira dar
uma trégua, vinha um ardume desgraçado que só um moleque amarelão como eu,
agüentava a peia. Levantava da rede e ia em direção da panela de mingau que
ficava em cima do fogão.
Meio capenga, o ardume quase passando no vão do dedo,
tornava a encher a cuia, passava pela mesa da cozinha e cobria o mingau com pó
de canela, voltava para a rede, então me punha ao agasalho matinal enquanto a
chuva chiava na telha de barro.
Era comum a gente colocar uma latinha de óleo seca, na
biqueira da casa para fazer um poc, poc, poc, dos pingos da chuva. Enquanto a
lata, meia enterrada, no chão debaixo da bica fazia seu barulhinho bom, surgia
então essa fantasia maravilhosa, que as chuvas de fevereiro marcaram para sempre
seus dias lúdicos em mim.
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