Ivan Martins é jornalista e editor-executivo da Revista Época. |
As mulheres conhecem essa história de cor e salteado. Converse com qualquer uma
delas e você vai descobrir que o homem bumerangue está na área desde que elas
têm 14 anos. O sujeito enjoa do namoro, começa a tratar a moça mal e dá um pé
na bunda dela – ou leva, depois de repetidas desatenções. Dias depois, porém,
ou mesmo horas depois, lá está o mesmo cidadão ao telefone, transtornado,
pedindo para voltar e usando expressões definitivas como “eu te amo”, “não sei
viver sem você” e, claro, a melhor de todas, “você é a mulher da minha vida”.
Quem nunca fez esse papelão levante a mão!
Muitos já fizeram, mas há muitos que transformam esse comportamento errático em modo de vida. Eles estão sempre apaixonados por uma de duas mulheres – aquela que já foi embora ou aquela que ainda não apareceu. A mulher do agora, com quem ele dorme, viaja e vai ao cinema, essa nunca é tão bacana. Mas, basta ela se cansar do enfado dele e retirar o time de campo para se tornar, instantaneamente, a mulher mais linda e mais desejada do mundo – a (ex) mulher da vida dele.
Já ouvi dezenas de amigas me perguntarem, ao longo dos anos, sobre o que passa na cabeça dos homens que agem assim. Na nossa cabeça, afinal. Eu não sei. Meu melhor palpite é que se trata de uma terrível ilusão romântica. Ela desloca a felicidade para outro momento da vida, diferente do agora. Produz insatisfação crônica. Quando está no modo nostálgico, o sujeito imagina que o melhor ficou para trás: a ex é que era engraçada, bacana, a melhor foda do universo. No outro modo, o futurista, o sujeito se põe a fantasiar furiosamente sobre uma nova mulher, que ele acaba de conhecer. Ela, sim, bonita desse jeito, divertida, poderá fazê-lo feliz pelo resto da vida! Continue lendo...
Escrevo sobre homens porque esse comportamento inquieto parece ser mais comum
entre nós, mas as mulheres não estão livres dele. Com o fim das convenções
sociais que as obrigavam a serem fiéis e bem comportadas – mulher de um homem
só, pela vida toda – elas também começam a agir como Don Juan, o sedutor serial
da literatura: olham, querem, seduzem, se decepcionam, começam a sonhar de
olhos abertos, terminam o relacionamento, começam tudo de novo. Feito homem.
Foram contaminadas pela inquietação do amor perfeito.Cientistas que estudam o
otimismo humano dizem que muitas pessoas acreditam, sem razão objetiva, e
muitas vezes contrariando as evidências, que a vida vai lhes dar coisas cada
vez melhores. Amor, inclusive. Talvez esses tipos que estão sempre olhando para
o futuro, à espera de uma pessoa melhor, sejam apenas otimistas incorrigíveis.
Ou tolos. O que é o otimismo sem fundamento senão uma espécie esperançosa de
burrice?Quem nunca fez esse papelão levante a mão!
Muitos já fizeram, mas há muitos que transformam esse comportamento errático em modo de vida. Eles estão sempre apaixonados por uma de duas mulheres – aquela que já foi embora ou aquela que ainda não apareceu. A mulher do agora, com quem ele dorme, viaja e vai ao cinema, essa nunca é tão bacana. Mas, basta ela se cansar do enfado dele e retirar o time de campo para se tornar, instantaneamente, a mulher mais linda e mais desejada do mundo – a (ex) mulher da vida dele.
Já ouvi dezenas de amigas me perguntarem, ao longo dos anos, sobre o que passa na cabeça dos homens que agem assim. Na nossa cabeça, afinal. Eu não sei. Meu melhor palpite é que se trata de uma terrível ilusão romântica. Ela desloca a felicidade para outro momento da vida, diferente do agora. Produz insatisfação crônica. Quando está no modo nostálgico, o sujeito imagina que o melhor ficou para trás: a ex é que era engraçada, bacana, a melhor foda do universo. No outro modo, o futurista, o sujeito se põe a fantasiar furiosamente sobre uma nova mulher, que ele acaba de conhecer. Ela, sim, bonita desse jeito, divertida, poderá fazê-lo feliz pelo resto da vida! Continue lendo...
Muita gente acredita que essa insatisfação permanente é a única forma real da existência humana. Dizem que relações e sentimentos duradouros seriam, na verdade, uma violência contra a nossa natureza de bichos. Afinal, não estamos sexualmente interessados em outras pessoas o tempo inteiro? Se fôssemos honestos, afirmam, teríamos de admitir que nosso desejo é múltiplo e está sempre à procura do próximo objeto. Por isso, não deveríamos estabelecer relações de exclusividade com ninguém.
Eu não vejo as coisas desse modo.
Acho que podemos escolher entre viver de forma auto-indulgente, correndo atrás do nosso desejo insaciável, ou negociar com ele. O relacionamento é um espaço negociado. Eu e você decidimos que estaremos aqui dentro, juntos, sabendo que uma parte de nós gostaria de estar lá fora, na pluralidade. Mas, lá fora, você e eu sabemos, há sempre uma vontade enorme de estar aqui dentro. Então ficamos, apertamos os nossos vínculos, e desfrutamos da nossa rica intimidade, nos privando de muitas coisas que gostaríamos de tentar, embora não necessariamente de todas. Se o esforço para ficar aqui dentro tornar-se grande demais, caímos fora. E começamos de novo, com muita dor.
Acho essa uma proposição honesta e realista, romântica de uma maneira moderna. Ela é melhor, a meu ver, do que a ilusão de que o grande-amor-definitivo-e-arrebatador surgirá a qualquer momento, e, por isso, devemos estar emocionalmente livres para recebê-lo, sem nos envolver de forma profunda com ninguém no presente. É melhor, também, do que a sensação de que a mulher que deixamos partir (ou o homem que escolhemos deixar) era a única que tinha o poder de nos fazer felizes.
Sei que isso é um clichê miserável, mas o fato é que não existe uma pessoa que nos fará magicamente felizes. A tal felicidade, se existe, depende de nós. Nós deveríamos ser capazes de escolher e ficar contentes com a pessoa que escolhemos. Ou, se não for esse o caso, ao menos deveríamos estar contentes com o estilo de vida desprendido que adotamos. Tudo aqui e agora. Não adianta ser feliz no ontem, que já passou, ou no amanhã, que talvez nunca venha.
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)
Um aviso: na quarta-feira (6) vou participar às duas da tarde (14 horas) de um Hangout no Google +. Para quem não sabe, o Hangout é um bate-papo ao vivo, por vídeo. Vocês perguntam, eu respondo. Se você quer ser um dos meus convidados para a conversa "webcam a webcam",preencha este formulário. O tema proposto é... Amores de Carnaval. Quem tiver ideias ou questões sobre o assunto, apareça.
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