PRESIDENTE DA FPF REFUTA ACUSAÇÕES E DIZ QUE SAI CANDIDATO À
REELEIÇÃO
Alan Bordallo - Da redação do Amazônia
Depois de uma onda de ataques à Federação Paraense de
Futebol (FPF), o presidente da entidade, Antonio Carlos Nunes de Lima, quebrou
o silêncio e concedeu uma entrevista exclusiva aos jornais Amazônia e O LIBERAL
na tarde de ontem. Na conversa ele aborda, e refuta, as denúncias feitas pelo
senador Mário Couto à FPF. Ele também mostrou à reportagem os documentos do
contrato e dos convênios firmados com braços governamentais como a Secretaria
de Estado de Esporte e Lazer (Seel), Funtelpa e Banpará.
Nunes relembrou o início do apoio do Governo do Estado ao
futebol paraense, proposto por ele ao então governador Almir Gabriel, com o
objetivo de buscar auxílio para o deslocamento e hospedagem de delegações
visitantes - tópico que motivou uma das denúncias de apropriação indevida do
dinheiro público. "Nunca se teve notícia de que eu tivesse desviado verba
pública ou usado esse dinheiro em benefício próprio", disse.
Ele garantiu que vai enviar à Assembleia Legislativa do
Estado do Pará (Alepa) ainda nesta semana toda a prestação de contas de
convênios e contratos com o Governo, bem como os balancetes da Federação.
"Nunca tivemos uma conta rejeitada. Mas se a Alepa quiser fiscalizar os
clubes, aí já não sei o que vai acontecer", disse.
Nunes aproveitou a entrevista para antecipar que não vai
deixar o cargo e anunciou que irá se candidatar no próximo pleito, que
acontecerá no segundo semestre.
Como o senhor recebeu as denúncias vindas do senador
Mário Couto sobre sua gestão à frente da FPF?
Pergunto: por que só agora? Por que não antes? Esse apoio
que Governo do Pará dá ao futebol paraense saiu de um projeto elaborado por
mim, iniciado no governo Almir Gabriel. Fui levado à presença do governador
através do deputado estadual Adenauer Góes. O governador conversou conosco,
gostou do projeto e disse que ajudaria o futebol dali para frente. Pedíamos o
apoio para deslocamento das viagens das delegações visitantes, compras de
passagens e hospedagem. E ele (Gabriel) me disse: "Olha, Nunes, eu não dou
dinheiro para os clubes porque se der eles vão contratar pernas de pau".
Palavras dele. "Só repasso dinheiro para a federação pagar as
despesas". Assim foi feito. Daí para frente veio o governo Simão Jatene,
depois Ana Júlia, e novamente Simão Jatene. Todos mantiveram (o apoio). Continue lendo...
Mais
recentemente, no governo Ana Júlia Carepa, o apoio aumentou, com
televisionamento, através da TV Cultura (Funtelpa). Uma equipe do governo me
procurou na FPF trazendo a proposta nos mesmo termos. Eles já tinham conversado
com os clubes e não iriam repassar a eles a verba, e sim à FPF, que destinaria
o quinhão a cada um de acordo com o que estabelecia o contrato. Depois ainda
veio o Banpará, com publicidade nas camisas, e mais uma vez a FPF foi lá,
assinou da mesma forma. Ou seja: o Governo do Pará confia na administração da
FPF. E em diferentes correntes políticas. Por isso digo: por que só agora
incomoda as pessoas? Fico maquinando. O que tem por trás disso?
O senhor tem opinião da razão disso acontecer?
Não tenho opinião. Se o presidente Nunes não tivesse
levantado bandeira de interiorização do futebol profissional do Pará o clube
que reclama - que foi orientado por mim desde a fundação e tem sua documentação
na CBF como de todos, teve o mesmo tratamento de todos - também está neste
contexto. Assino os contratos do Governo Almir Gabriel até agora e a cada ano
presto contas para o Tribunal de Contas do Estado (TCE). Não tivemos uma conta
rejeitada. E tem mais: para assinar os contratos de 2013, com certidão negativa
do TCE, do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), INSS, imposto de renda...
Ninguém de fora do futebol, lendo esta matéria, imagina que tudo isso é
preciso. Mas é. Então você imagina que se a FPF não prestasse contas certas, se
o Nunes, como gestor, que assina, que tem responsabilidade, não estivesse
certo, seria renovado o contrato? Não precisa nem dizer. Lanço desafio: estão
criando comissões para apurar e investigar o futebol. Não precisa investigar a
FPF nem ouvir o Nunes. Fico calado no meu canto. Vão lá no TCE. Podem ir, é o
funil de tudo. Vão na Funtelpa, no Banpará, Seel, e perguntem se passou a
prestação de contas. Fazemos isso (a prestação de contas) mandando cópia
protocolada no TCE. Do governo Almir Gabriel até agora não tivemos uma conta
rejeitada. Nenhuma foi mandada voltar, nunca tivemos que devolver dinheiro para
pagar ou restabelecer algo feito indevidamente. Nada disso. E no último
convênio que fizemos com a Seel, por termos conseguido preços mais baratos em
hoteis, devolvemos quando houve sobra. Isso está no balancete de prestação de
contas, que pode ser visto no site da FPF (fpfpara.com.br). Tem as cópias dos
últimos cinco anos. E temos que ter auditoria externa, que é uma exigência da
Lei Pelé. Tem contrato com escritório de auditoria. E digo mais: publicamos o
balancete no Diário Oficial do Estado, mesmo local publicado o extrato dos
convênios e as leis do estado. Se ninguém quer fiscalizar é porque depois quer
aparecer na mídia.
Como funcionam esses contratos? Algum percentual é
destinado à FPF ou a entidade faz apenas o repasse da verba pública?
Eu queria ter um repasse, porque ajudaria bastante. Eu estou
precisando de ajuda, de verba, para concluir o Centro Esportivo da Juventude
(Ceju), que é um projeto de inclusão social da nossa federação. Até hoje
conseguimos fazer o campo de futebol, nas imediações do Mangueirão, vestiários
e tribunas. Mas não conseguimos concluir, já que são quatro campos. Até em
Brasília já estivemos para conseguir apoio. Então eu gostaria de ter ajuda, mas
não temos. Ao contrário, tenho que prestar conta disso. Agora digo o seguinte:
não recebo sequer um centavo de percentual sobre aplicabilidade disso aí.
Nenhuma empresa faria isso pagando contadores, pessoal para trabalhar. A única
coisa que consegui nesse processo foi patrocínio do Banpará, que nos atendeu, a
troco de publicidade. Se pegar documento da FPF, roupa dos gandulas, placa
eletrônica, terá a marca Banpará, por R$ 5 mil por mês. O Banpará ajuda,
atendeu nosso apelo. Mas é uma troca por publicidade.
E como funciona a
deliberação da FPF com relação às viagens dos clubes, que é um dos pontos de
denúncia. Como atua a empresa Rocha Romano foi escolhida para atender as
viagens dos clubes e como ela trabalha junto à FPF?
A FPF é uma entidade civil de direito privado para fins
desportivos. Não é uma empresa pública. Ela compra onde lhe aprouver. Muita
gente confunde a FPF, a trata como se fosse uma empresa pública, pela
nomenclatura que tem. Já vi gente confundir com secretaria de esporte e lazer.
A primeira parte desse projeto envolvia passagens. Conseguimos comprar as
passagens com empresas particulares, agências de viagens. Se pagava tudo. Mas
chegou um ponto que nós ficamos inviabilizados de comprar com agências de viagens.
Como fazer? A agência tem que ser paga de 10 a 15 dias no crédito que dá. O que houve:
uma das que elegemos parou de nos vender. Compramos fiado porque houve épocas
em que atravessou o convênio todo e não saiu dinheiro das passagens. Foi uma
luta depois que terminou o campeonato para recebermos o dinheiro e pagarmos a
empresa. A gerente chegou a perguntar se não tínhamos patrimônio para vender
porque a empresa estava falida. E a gente esperando o contrato, que não
falhava, não atrasava. O que fizemos: o Paulo Romano é sócio de uma empresa.
Cheguei com ele um dia. Eu mesmo disse: "Será que tua empresa segura
atraso da liberação de verbas?" Porque o Governo, quando inicia o ano, só
libera dinheiro perto de março. Quem trabalha no funcionalismo público sabe. Ou
então estou enganado e o da FPF não foi liberado. Perguntei: "Será que tu
seguras?". Só tem gente para falar coisas levianas... Romano é engenheiro,
empresário, e vou dizer: é rico. Tem uma empresa de construção, trabalha para
várias outras empresas em Belém e fora do Pará. Futebol é um hobby para ele.
Ele é crucificado junto comigo. Eu gostaria que o governo comprasse direto a
passagem. Seria um favor para mim. Mas não pode, não dá certo. Romano disse:
"Seguro, mas será que eu recebo?". Eu disse que sim, que atrasaria,
mas sairia. E não tem superfaturamento coisa alguma. Ele se prontificou a
aceitar acordo conosco. Não tinha outra empresa para procurar. Se alguém tiver
empresa que venda passagens e aguente três meses para receber, venha, se
ofereça para FPF, que ganha até presente nosso. Mas também não superfature os
preços. Porque aí eu cairia no TCE. O TCE nunca reclamou, aí vem alguém de fora
e reclama. Pergunto: só agora? Hoje estamos terminando abril. Sabe quantas
vezes saiu a verba? Nenhuma. Estou devendo para a firma do Romano. Não tem
problema, pago quando puder.
E como será feita a quitação desta dívida?
Está no contrato que a FPF entrega 23 passagens para a
delegação visitante, especificando: se for para a região Oeste do Estado, é
passagem aérea; se for para Sul do Estado, de ônibus. Mais duas diárias de
hotel. A FPF não entrega dinheiro aos clubes porque não está no contrato. Se
estivesse no contrato que fosse para dar aos clubes seria uma maravilha.
Gostaria que fosse assim. Mas o Governo tem seu entendimento e passa para a FPF
(a verba). Estamos expondo como funciona esse trabalho que se faz em torno do
deslocamento de delegações. Quem quiser interpretar de forma diferente que o
faça. E que apresente sua fórmula mágica para a FPF. A FPF paga isso com o
dinheiro do convênio da Seel. Já teve anos que o dinheiro não veio depois do
campeonato encerrado e só recebemos no ano seguinte.
Quanto é o percentual da FPF nas taxas de cada jogo do
Parazão?
Não fui eu que criei isso. Quando fundaram FPF, há 40 anos,
aprovaram o estatuto, que todos os jogos no Pará devem destinar 10% da
arrecadação para manutenção da FPF. Não fui eu que criei. Se vem uma renda boa,
todo mundo fica de olho nesses 10%. Quando não tem renda ninguém pergunta. Só
quero o que é estatutário. Eu me viro para manter a FPF com isso aí. Aí vem um
camarada leviano e diz que a FPF ganha 10% e não faz nada. Como, se tem gente
trabalhando lá para ter o jogo, a responsabilidade maior é da FPF? A gente não
entra em campo para jogar ou varrer estádio. Por que não dizem que Nunes
assinou contrato com Funtelpa para transmitir os jogos? As pessoas se
acovardam. Tudo isso é em benefício dos clubes e não levo um centavo. Mesma
coisa com os convênios: se não sai marca do governo nas camisas dos clubes, a
cobrança é em mim. Refuto
todas as acusações, que são levianas.
Outra acusação sobre a FPF é de aliciamento. O senador
Mário Couto afirma que a FPF tentou interferir na construção do estádio em
Cuiarana, oferecendo uma empresa que concluiria obra com menor preço e prazo.
Isso aconteceu?
Com relação a certas coisas a
gente vê que pessoas acusam, mas não mostram provas. Só digo que não sou pessoa
de enganar, contar mentiras ou inventar para me promover. Quando foi fundada
essa entidade (Associação Atlética Santa Cruz), nos procuraram na FPF. Passamos
orientações. Havia alguns problemas no estatuto que procurei orientar.
Encaminhamos tudo que era direito para a sede da CBF. Só sabia que estava sendo
construído estádio. Sou um amante do futebol do interior. Nunca recebi convite
do cidadão que propala esta notícia para visitar o estádio. Mas sua comissão
técnica da época, que conheço, insistiu que fosse lá. Eu estava entusiasmado
pela criação de mais um estádio e queria ver. Um dia fui. Levei um oficial do
Corpo de Bombeiros, tenente coronel Daniel Rosa, que participa das vistorias
nos estádios, levei dois diretores meus, Paulo Romano entre eles. Fomos
conhecer o projeto. Fomos bem recebidos. O patrono do clube estava lá. Olhamos
o estádio todo. Meu pessoal mediu as traves, que estavam com tamanho menor.
Medimos campo, olhamos degraus de arquibancadas. Temos fotografias disso. Fomos
para ajudar. Fiz questão de dizer para o patrono que estava ali para ajudar e
perguntei sobre o projeto elétrico. Falei que precisava de iluminação. Fiz
tudo. Não gravei porque não adoto sistema de conversar com as pessoas gravando
o que se fala. Conversei com muita gente lá. Elogiei o trabalho. Foi aí que
surgiu notícia que seria ampliado o estádio, construído um tobogã. Coloquei
equipe da FPF para qualquer orientação que fosse possível. Não fui pedir
trabalho para o Paulo Romano lá, que nem tempo tem para isso. Perguntei quem
era o engenheiro e o patrono do clube disse que era ele. Brinquei: "Pela
prática, pela vivência, pode ser. Mas é bom que tenha um engenheiro para que
seja aprovado pelo CREA, pelos Bombeiros". Aconteceu isso. De outra
maneira, o que se cria são fantasias. Porque o prefeito de Paragominas não me
acusou? Fomos lá para ajudar também. Demos palestras para os operários. Falamos
com os engenheiros. Existe padrão de vistoria de estádio, tem que ser
obedecido, é portaria do Ministério dos Esportes. Levamos cópias disso para
Paragominas. Entregamos lá em Cuiarana também. Por que Paragominas fez tudo
direito? O estádio lá está pronto, vai receber semifinais do Parazão, é
aprovado pela CBF, teve jogos do Brasileirão. Faço as mesmas orientações para
todos. Mas de repente alguém se volta contra mim.
As denúncias desgastaram diretores atuantes da FPF, como
o próprio Paulo Romano, que já fala em pedir afastamento da entidade. O senhor
conversou com ele a respeito disso?
Paulo Romano é um diretor
voluntário. Ele gosta disso. Antes de trabalhar com outras coisas já gostava
disso. Nem foi levado por mim para lá. Eu não o conhecia. Tinha um diretor de
futebol chamada João Gouveia de Paula, também engenheiro. Ele foi quem levou
Romano para auxiliá-lo. Depois, por motivos profissionais, o Gouveia se mudou.
O Paulo, como tinha prática, continuou o serviço. Se tornou conhecido, porque o
futebol dá essa mídia. Mas o dia que quiser sair não terá problema nenhum. Não
vou segurar, não quero ninguém trabalhando contra vontade. Quero gente
dedicada. Ele acabou de ganhar duas concorrências fora do Estado e sempre está
viajando. E para quem ignora, se ele não fosse competente, não pertenceria ao
quadro de inspetores de estádio da CBF.
O senhor cogita tomar atitude semelhante ou vai concorrer
nas eleições deste ano?
Quando cheguei na FPF foi porque gostei. Tem eleição esse
ano e vou concorrer à reeleição, sim. Estou lá porque gosto, não fui pinçado,
não fui protegido de ninguém. Lanço meu nome, se apoiarem, tudo bem. Será feito
o edital em tempo devido, será feita a eleição nos moldes que a legislação
brasileira permite. Vou concorrer. Sou coronel da reserva da Polícia Militar.
Ganho bem e tenho meu salário para viver com família sem precisar de dinheiro
de ninguém. Nem para pagar cerveja para mim. Tenho condições, tenho saúde,
força e tutano para aguentar. Tenho tempo para me dedicar. Porque o camarada
que tem outras coisas, para assumir uma federação de futebol como é a nossa, no
estágio atual, como se trabalha aqui, ele vai naufragar. Tem que estar à
frente. Debaixo de sol, chuva, do que acontecer no Pará.
E o estatuto da FPF, pode ser atualizado?.
Ele está atualizado. A Lei Pelé o atualizou. A FIFA mandou a
CBF mudar estatuto e as federações acompanharam. E eu por questão ética resolvi
não alterar, porque essa atualização prorrogaria meu contrato por mais um ano.
Não gostei, não fiz. Prefiro enfrentar uma eleição. Porque se quisesse me
segurar tinha reunido assembleia geral, que se reúne com qualquer número na
terceira e última convocação, mas não quis. Poderia passar meu mandato para
cinco anos, mas não quis fazer. (Amazônia – ORM)
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