SERVIDORES PROMETEM SUSPENDER ATIVIDADES HOJE PARA COBRAR
MELHORES CONDIÇÕES DE TRABALHO E ATENDIMENTO
Servidores do Pronto-Socorro Mário Pinotti, na travessa 14
de Março, paralisam as atividades, hoje, para protestar em frente ao hospital
contra as condições de trabalho no hospital. Faltam remédios para aliviar a
dor, macas e materiais básicos para o atendimento. Muitos pacientes são
atendidos nos corredores e a enfermaria, além de quente e abafada, exala um
odor fétido. "Está muito difícil aí dentro. Tem mau cheiro essa
enfermaria. É desumano. Não tem lençol, eu trouxe uma toalha", revela
Maria Claudenir Ferreira Cláudia, prestadora de serviços gerais de 48 anos. Ela
acompanhava a mãe, Maria Júlia Ferreira Cláudia, 67 anos, que sofreu um AVC e
passou a madrugada no corredor. "E a maior parte do tempo eu fiquei em pé,
que nem cadeira tinha. Os médicos atendiam bem, só reclamavam na hora do
remédio, porque não podiam fazer nada. É muito triste a pessoa precisar disso
aqui. Quando eu olhei, me deu vontade de chorar", revelou.
Assim que a reportagem chegou ao PSM, funcionários abordaram
a equipe para informar sobre a paralisação de hoje. "Não tem nem água para
beber. Falta luva, máscara, tudo. Até caixão do prefeito vai ter aqui amanhã
(hoje). Alguns medicamentos desde setembro estão em falta aqui no
hospital", declarou um funcionário, ao denunciar que o ex-diretor do
hospital, André Oliveira, foi substituído semana passada pelo médico Roberto
Nunes, porque apoiava os servidores que se queixavam das péssimas condições do
local.
É possível ter uma ideia do cenário caótico descrito por
familiares de pacientes e servidores dos PSMs da travessa 14 de Março e do
Guamá mesmo do lado de fora dos hospitais. No portão de entrada já se visualiza
pacientes em macas de aço no meio dos corredores, sem nem mesmo lençol.
Demétrio Barros, 60 anos, deu entrada no PSM da 14 às 8 horas de ontem, após
passar mal com suspeita de cirrose. Duas horas depois de dar entrada, o idoso
continuava deitado no corredor do hospital, tomando soro. "A princípio, eles
falaram que ele vai ter que ir ao posto de saúde, fazer consulta para começar o
tratamento. Eu me sinto mal com tudo isso, porque nós pagamos nossos impostos e
devíamos ter melhores condições, um tratamento mais digno. Agora ele está ali,
numa maca de aço, sem nenhum conforto", lamenta o filho de Demétrio,
Sidney Maia.
Paciente denuncia situação precária Continue lendo...
A mãe da secretária Keila Lopes, 25 anos, Maria Jovelina, 54
anos, sofreu um AVC e conseguiu um leito no segundo andar do PSM Mário Pinotti.
"Está ruim. Falta remédio e até o ambiente não tem estrutura para a gente
ficar", declarou Keila. Na enfermaria, por onde Maria Jovelina passou
antes, a situação é pior. "Está horrível, muito quente, arriscado até de
pegar uma doença. Os médicos atendem bem, mas não tem medicamento",
revela.
No PSM Humberto Maradei, no Guamá, Domingas do Espírito
Santo, 58 anos, teve vômito, diarreia e dor à noite. Procurou o hospital onde
foi atendida e orientada a comprar um medicamento, mesmo assim as dores não
passaram. "E agora a diarreia se transformou em sangue. Fui ao posto e
a doutora transferiu ela pra cá (PSM) para fazer um ultrassom, mas ele disse
que não faz aqui e queria passar o mesmo medicamento que ela já tinha tomado no
posto", disse a filha, Raimunda Suely, dona de casa de 38 anos. Tudo isso
fez com que as duas fossem embora do PSM, sem o atendimento que esperavam e com
Domingas ainda com dores, vômito e diarreia. "Para mim é constrangedor,
porque eles estão aí para cuidar", declarou.
Sesma afirma que manterá serviços
A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou, em nota,
que caso ocorra a paralisação prevista para hoje, o HPSM Mário Pinotti não
ficará sem profissionais de Saúde. Em relação a remédios e material hospitalar
em falta, a Sesma afirma que a compra para reposição já foram feitas e até a
próxima segunda-feira a maioria dos medicamentos será entregue para
reabastecimento de todas as unidades. Quanto ao tomógrafo do Mário Pinotti, a
Sesma admitiu que ele não funciona e informou que está finalizando o contrato
com a empresa que fará o reparo, e trabalha na aquisição de um novo aparelho. O
órgão também informou que o equipamento de Raio-X do HPSM Humberto Maradei está
com defeito, "mas nenhum dos pacientes deixa de fazer o exame por esse
motivo, uma vez que eles são levados para outro hospital para a realização do
exame". A Sesma afirmou, ainda, que está tratando com a direção do
hospital Ofir Loyola, a doação de um aparelho de Raios-X em condições
operacionais.
Sobre os atendimentos nos corredores, a Sesma credita o
problema à alta demanda e afirma que grande parte dos pacientes vem de outros
municípios do Estado.
PSM do Guamá debate indicativo de paralisação na terça-feira
Os servidores do PSM do Guamá marcaram assembleia para a
próxima terça-feira, 2, no hotel Ipê, e não descartam a possibilidade de também
cruzar os braços para reivindicar melhorias nas condições de trabalho.
"Falta dipirona, soro e seringas. Vários pacientes cardíacos morreram pela
falta de adrenalina", denuncia a funcionária Nazaré Soares, que trabalha
na farmácia do PSM. Ontem à noite, cerca de 40 trabalhadores se reuniram no
estacionamento da unidade, para tratar da mobilização. "A gente está
sofrendo há oito anos. Este governo está pior. Quando vem um medicamento,
faltam outros dois. Estão mandando a média mensal de 2 mil ampolas de dipirona
(remédio para dor), quando por dia gastamos 500. O médico tem que escolher os
pacientes que estão sofrendo mais para dar a medicação. Falta mangueira de
soro, escalpe, fios de sutura, kit de aerosol. Os médicos vão embora no meio do
plantão porque não têm como atender. Há pacientes sendo internados em cadeiras
e poltronas. Às vezes, o Samu tem que deixar a maca pra gente internar. Estamos
trabalhando com tapa-buraco. As pessoas estão morrendo muito", desabafou
Nazaré.
A reunião de ontem foi motivada pela preocupação com o
aumento da demanda de pacientes para hoje, quando 70% do efetivo do PSM Mário
Pinotti, situado na travessa 14 de Março, fará paralisação.
Funcionários do Samu e agentes de saúde farão ato
segunda-feira
Os funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(Samu) e os agentes comunitários de saúde e os agentes de controle de endemias
também farão protestos em reação às péssimas condições de trabalho e em busca
vantagens salarais, na próxima segunda-feira, 1º. O diretor executivo do
Sindicato dos Trabalhadores em
Saúde Pública do Estado do Pará (Sintesp-PA), Carlos Haroldo
Costa Júnior, informa que, das sete ambulâncias do Samu existentes em Belém,
três estão paradas por falta de manutenção. Em relação aos agentes, desde
janeiro a prefeitura recebe R$ 950 do Ministério da Saúde para pagar o salário,
mas o valor efetivamente pago aos trabalhadores está no mesmo patamar do ano
passado, R$ 714. O ato dos servidores do Samu será em frente ao órgão, na
travessa Castelo Branco, das 8 às 12 horas. Já o protesto dos agentes será em
frente ao palácio Antônio Lemos, às 8 horas da manhã.
Mobilização - Os médicos vão às ruas no próximo dia 3
de julho em uma passeata no centro de Belém. A decisão foi tomada pela
categoria em assembleia geral convocada pelo Conselho Regional de Medicina
(CRM-PA), Sindimepa e Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará (SMCP). (Amazônia –
ORM)
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