Aelton Freitas é deputado federal pelo PR de MG e reuniu um
grupo de políticos para dar ensinamentos sobre como uma fazer campanha
eleitoral.
Aelton Freitas é deputado federal pelo PR de Minas Gerais. Em um
vídeo exclusivo obtido pelo Fantástico, ele ensina como se disputa uma eleição
comprando votos e espalhando boatos sobre os concorrentes.
“Eu tenho uma teoria que eu digo que problema de companheiro
meu é problema meu. Acho que política é isso”, diz em um trecho do vídeo.
Antes de ser eleito deputado, ele foi senador, no lugar de José Alencar, que deixou o
Senado para assumir a vice-presidência da República, em 2003.
O vídeo obtido pelo Fantástico foi gravado em setembro de
2012, na retal final das eleições para vereador e prefeito. O deputado está em
um restaurante em Capetinga,
interior do estado. Continue lendo...
Na mesa, estão o então prefeito da cidade, Carlos Roberto
Custódio, conhecido como Carlito, o candidato a prefeito, Donizete do
Escritório, e o candidato a vice, Adriano do Gás. Também estão na mesa as
mulheres deles e um assessor do deputado.
“O verdadeiro líder, muitas vezes, é aquele que não faz
questão de aparecer”, diz Aelton no vídeo.
O grupo está reunido para receber ensinamentos políticos de
Aelton Freitas sobre como uma fazer campanha eleitoral.
Lição número 1: como comprar votos. A técnica do
‘cartãozinho’: “Nós vamos fazer 200 cartõezinhos para prefeito. Não quer dizer
nada, 200 cartõezinhos. E nós vamos pegar 20 amigos nossos confiáveis. Quem é
da confiança? Vinte. Então você vai ter dez, você vai ter dez, você vai ter
dez. Você vai buscar dez companheiros seus lá e que não estão votando no
Donizete”.
E quanto vale o voto de um eleitor? Segundo Aelton: “Esse
cartãozinho vale R$ 100. O cara não vai votar em você. Vai votar nos R$
100 que o cartãozinho que está no bolso dele vale. E outra: só vão pagar se
tiver sido eleito”.
Lição número 2: como espalhar boatos contra o adversário. É
preciso convocar o esquadrão da fofoca: “Vamos buscar três, quatro pessoas
dentro do nosso grupo que saiba incomodar o Daniel”, ensina no vídeo.
Daniel Bertholdi era um dos candidatos a prefeito de
Capetinga, adversário de Donizete do Escritório.
“Três ou quatro pessoas que possam estar em boteco ou em
ponta de rua soltando boato e fofoca. Porque o Daniel tem que desmentir e
perder tempo naquilo. Não você. A cúpula da campanha, que está por cima, nem
conhece. Baixa o retrovisor e esquece que tem concorrente. Vocês estão indo em
uma viagem ao futuro de Capetinga, pronto”, diz.
Depois dessas lições, Aelton explica como retribui a votação
recebida: ele usa a verba das chamadas emendas parlamentares para favorecer os
municípios onde obteve mais votos: “Um parlamentar tem 12 milhões de emenda por
ano. Eu procuro distribuir essas emendas proporcionais aos votos que eu tenho.
Eu preciso de 100 mil votos e tenho 12 milhões, eu divido 12 milhões por 100
mil votos. Significa dizer que, a cada mil votos que eu tenho em uma cidade,
aquela cidade tem 120 mil meu por ano. Está certo?”.
Capetinga tem pouco mais de 7 mil habitantes e mais de 6.100
eleitores. As eleições de 2012 tiveram quase 5 mil votos válidos. Lá, o eleitor
se queixa de abandono das autoridades. “Não tem transporte aqui, uma pobreza
lascada”, reclama o pedreiro Antönio Flavio Terra.
“Não tem médico, o posto ficou fechado 15 dias. O posto aqui
não funciona sábado e domingo”, conta a aposentada Regina Rodrigues da Silva.
Um homem que trabalhou para o então candidato Donizete do
Escritório, apoiado pelo deputado federal, confirma que a campanha comprou
votos, sim. usando a técnica do cartãozinho.
Repórter: Você chegou a distribuir cartões?
Testemunha: Cheguei. Cheguei a distribuir.
Repórter: Quem te deu o cartão para distribuir?
Testemunha: O próprio Donizete.
Testemunha: Cheguei. Cheguei a distribuir.
Repórter: Quem te deu o cartão para distribuir?
Testemunha: O próprio Donizete.
No vídeo, o deputado federal afirma que o dinheiro só pode
ser pago depois da vitória do candidato. Mas uma eleitora afirma que Donizete,
que acabou perdendo a eleição, estava tão convencido da vitória que pagou
adiantado: “O candidato Donizete pensou que já tinha ganhado a eleição. Aí ele
resolveu pagar o pessoal uma semana antes porque ele ‘contou’ vitória”.
Ela diz também que recebeu R$ 100 a mais que o valor
sugerido pelo deputado no vídeo. “Eu ganhei 200 reais no cartãozinho”.
Repórter: O voto era comprado de outras formas?
Testemunha: De várias formas. Uma conta de água paga, uma conta de luz paga, um táxi, uma consulta com um médico, uma cesta básica.
Testemunha: De várias formas. Uma conta de água paga, uma conta de luz paga, um táxi, uma consulta com um médico, uma cesta básica.
Eleitores dizem que a compra de votos é comum na região. “Dá
cesta básica, dá material de construção, dá bujão de gás, dá o que pede”, diz
uma aposentada.
“Já aconteceu isso em várias eleições”, afirma um
trabalhador.
“A única coisa que os candidato sabem fazer aqui é pagar
bebida para Deus e todo mundo. Paga à vontade. Menino, mulher, velho, velha,
menina, todo mundo”, garante a aposentada Regina.
O candidato a prefeito de Capetinga, Donizete do Escritório,
nega tudo: “Nós não usamos isso aí. Estava confiante que ia ganhar,
estava bem na frente das cotações. Então não tinha nem motivo para isso”,
afirma.
O candidato a vice, Adriano do Gás, que também estava na
reunião, alega que a aula de falcatrua gravada em vídeo era sobre outras
cidades: “Teve caso de contar história, sim, em outros municípios, mas isso
totalmente rejeitado por nós porque é uma prática ilusória. Você está comprando
aquilo que você não sabe”, diz.
O Fantástico tentou falar com o então prefeito, Carlos
Roberto Custódio, o Carlito, que também estava na reunião. “Ele está viajando.
Nem telefone eles levaram”, respondeu uma mulher.
Uberaba é a principal base eleitoral do deputado Aelton de
Freitas. O Fantástico também foi até o local e mostrou o vídeo para ele.
“Em reuniões fechadas, quando a gente faz com um grupo de
companheiros, de repente a gente fala muita coisa que não deve, que não pode. O
que eu falei ali foi em uma reunião fechada, entre companheiros, que nem
gravando eu sabia que estava”, explicou.
O vídeo contradiz o deputado: por duas vezes, Aelton
Freitas se mostra preocupado com a gravação. “Se a eleição estiver fácil, é uma
coisa. Se não estiver, são estratégias que nós temos. Você é bem companheiro?
Porque ele está gravando”, avisa em um trecho.
A segunda é logo na sequência da explicação da técnica do cartãozinho. “Vai votar nos R$ 100 que o cartãozinho que está no bolso dele vale. E outra: só vai pagar se tiver sido eleito. Por isso que eu perguntei se está gravando, se é bem companheiro, porque é uma tacada”.
A segunda é logo na sequência da explicação da técnica do cartãozinho. “Vai votar nos R$ 100 que o cartãozinho que está no bolso dele vale. E outra: só vai pagar se tiver sido eleito. Por isso que eu perguntei se está gravando, se é bem companheiro, porque é uma tacada”.
“Tinha uma pessoa com a câmera, outra com máquina
fotográfica, outro com celular. Falei: ‘aqui é tudo companheiro? Posso falar o
que eu penso?’ ‘Pode, não estão gravando’”, ele justifica.
O deputado nega que tenha ensinado a comprar votos na
eleição municipal de Capetinga e afirma que jamais comprou votos: “Eu nunca
participei, eu nunca comprei. Estou há 20 anos na política, nunca
comprei”.
Segundo ele, tudo não passou de brincadeira. “Fiz alguma
brincadeira, que eu sou muito de contar piada em reuniões, depois pedi
desculpas no final da reunião pelo que eu tinha falado e pelas brincadeiras de
mau gosto, me despedi e fui embora. Porque, quando é brincadeira, pode fazer de
mau gosto, igual quando você brinca, às vezes, com a raça, com a cor de uma
pessoa, você conta uma piada pesada, aquilo pode se tornar um processo”.
No vídeo, o deputado também ensina como se deve atacar, com
boatos e fofocas, a reputação dos adversários. Primeiro, o deputado diz que
isso é normal.
Aelton: Isso é natural, é igual jogo. É um jogo, campanha é
um jogo.
Repórter: Isso é natural na política?
Aelton: Na campanha.
Repórter: Difamar o adversário? É natural na campanha?
Aelton: Não, não é. Prefiro falar o que você quer ouvir: não é.
Repórter: Isso é natural na política?
Aelton: Na campanha.
Repórter: Difamar o adversário? É natural na campanha?
Aelton: Não, não é. Prefiro falar o que você quer ouvir: não é.
A pena pra quem compra votos pode chegar a quatro anos de
prisão, mais multa. Já os crimes de calúnia, difamação ou injúria podem dar de
3 meses a 2 anos de prisão e também multa.
Segundo Arnaldo Versiani, ex-ministro do Tribunal Superior
Eleitoral, o vídeo por si só não prova que qualquer crime tenha sido cometido.
“Isso a meu ver não está caracterizado. O que há, de certa
maneira, é uma incitação a práticas criminosas, como por exemplo, fazer com que
eventuais adversários passem a se preocupar com desmentir boatos e, com isso,
tentar conturbar o processo eleitoral”, explica o ex-ministro.
“Ele está induzindo os candidatos a vereador ou a prefeito a
cometerem uma ilegalidade. Então, na minha forma de ver, eu entendo que ele já
se enquadraria para ir para a Comissão de Ética da Câmara”, avalia Ricardo
Caldas, professor do Instituto de Ciência Política da UNB.
“Ele usa o critério de onde ele tem votos e onde ele
quer ter mais votos. Quer dizer: o interesse público muitas vezes pode passar
ao largo”, diz Gil Castelo Branco, secretário geral da ONG Contas
Abertas.
A Câmara e o Senado estão em recesso. Uma cópia do
vídeo foi entregue anonimamente ao Ministério Público em Minas, que enviou o
material para a Procuradoria Geral da República.
“O eleitor está desiludido com político. A nossa moral está
lá embaixo”, destaca Aelton em um trecho do vídeo. (http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2013/07/)
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