Ignácio de Loyola Brandão é jornalista, escritor, roteirista
de televisão e cronista do jornal O Estado de São Paulo.
|
Aliás, este é um tempo de perplexidades. Até o papa deixou o mundo perplexo e
os católicos assustados. Ruy disse que o fax foi uma das invenções que mais o
encantaram quando surgiu. Depois, veio a decepção, o fax era capaz de tudo,
menos de enviar uma pizza. E naquela época os deliverys não faziam parte de
nossos hábitos como hoje. Para mim, o encanto veio com o teletipo, ou telex,
aparelho que toda redação tinha. Por ele chegavam notícias internacionais,
muitas em inglês, porque estavam sendo redigidas no exterior, naquele momento.
Um espanto. Nunca me esqueço da tarde de 22 de novembro de 1963, quando o
teletipo anunciou que John Kennedy tinha acabado de ser fuzilado em Dallas,
Texas. Acho que eram 2 da tarde aqui. Em torno do aparelho juntou um grupo de
jornalistas ansiosos, emocionados, assustados. Vivíamos a história enquanto ela
acontecia. Aquilo foi espantoso para nós, jovens. Fomos seguindo passo a passo
o trabalho da polícia e a tentativa de recuperação de Kennedy no hospital.
Finalmente, o anúncio: o presidente foi declarado morto. Aquele momento foi o
nosso encontro com a modernidade na imprensa. Continue lendo...
Minha filha diz que sou bobo ao me orgulhar de não ter celular. "Pensa que
é bonito?" Não, penso que não preciso atender telemarketings, não preciso
atender quem não quero. Encontro quem eu desejo, preciso. O celular nos torna
prisioneiros. Há empresas que proíbem funcionários de desligarem o celular nos
finais de semana. Você é empregado 24 horas por dia, sete dias por semana, 30
dias por mês. Computador? Tenho. E dos bons. Um Mac que chamei de Big Mac
(ainda que eu odeie o sanduíche), porque me serve à perfeição. Tenho laptop.
Uso o CD, ainda que tenha descoberto que muitas vezes a mesma música que tenho
em vinil tem melhor reprodução e intensidade do que no CD. Mais, descubro que algumas
músicas no CD são "editadas", cortadas, faltam trechos. Agora MP-3,
iPod, Instagram não tenho. Observo a vida em torno. Ninguém mais vive contente
de estar onde está, seja bar, restaurante, cinema. Todos postam fotos e
mensagens do que comem, bebem, que filme vão ver, querendo saber do outro onde
está, o que come, bebe e se está melhor lá. Há uma imensa solidão nessa rede
social. E quanta inveja, quanto ressentimento. Dia desses, ouvi de um garoto:
"Filho da p..., ele se saiu melhor indo lá. E nós aqui neste mico!"
Dali em diante pareceu infeliz. Outro não se conformava por não ter ido à
praia.Não sei, pode ser que eu seja anacrônico tentando diminuir a velocidade do ritmo em que vivemos. Não preciso de tantas notícias, tantas informações, tantas frases tolas dos Twitters. O tempo que as pessoas passam tuitando. Usamos a palavra inglesa para o aparelho, porém, o verbo aportuguesou. Como entender a língua? Um amigo comeu um belo prato, bebeu um bom vinho, viu um belo filé como essa obra-prima Amor? Me ligue, me mande um e-mail. Bem, quanto a e-mails, despacho vários por dia, ainda que adore escrever cartas, colocar no envelope e pôr no correio. Exige paciência, exercício (uma caminhada até a agência). Nas filas, converso com as pessoas, encontro temas para crônicas.
Assim como vou à estante buscar um livro, gosto de ir à prateleira (no interior, dizem parteleira) e escolher um disco (CD ou vinil), colocar no aparelho, escolher a música. Levanto, ando, penso, decido. Porque tudo hoje se faz sentado e com toques em teclas e mouses. Sou uma mistura do antigo e novo. O bom do novo, aceito, incorporo. As neuras, obsessões, desvios, não. Tento ser feliz assim, ainda que felicidade seja algo indefinível, intermitente, ocasional.
0 comentários:
Postar um comentário