VAI MANDAR PELO GMAIL? JÁ VAI CÓPIA PARA EUA, DIZ MINISTRO
SOBRE ESPIONAGEM
FERNANDA ODILLA - DE BRASÍLIA - FOLHA
Ciente das fragilidades e vulnerabilidades dos sistemas e
redes de computadores, o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) afirmou nesta
quinta-feira (11) que informações estratégicas para o governo brasileiro não
são tratadas por email.
"Vai mandar um email secreto para um colega? Pode tirar
o cavalinho da chuva. Vai mandar pelo Gmail? Já vai a copia para lá...",
disse o ministro durante audiência da Comissão de Relações Exteriores do
Senado.
Ele foi convocado para comentar sobre as denúncias de
interceptação de dados de brasileiros pelo governo dos EUA, por meio de redes
sociais, e-mails e programas de busca como Google.
As revelações de espionagem no Brasil foram feitas pelo
jornal "O Globo" com base em informações do ex-técnico da CIA Edward
Snowden.
Questionado sobre o risco de informações de empresas como a
Petrobras terem sido monitoradas, Bernardo disse que o governo tem "uma
preocupação enorme de vazamento de informações estratégicas".
Ele disse ainda que assuntos relevantes não são mandados por
email e ficam armazenados em computadores não conectados à internet. Na quarta
(10), o ministro da Defesa, Celso Amorim, disse que não usa e-mail para coisas
importantes.
"Hoje em dia, o meu computador, por exemplo, só aperta
um botão, ele deve ligar já lá direto na Microsoft. É um fato real e eu sou o
ministro da Defesa. Obviamente, que o que eu tenho de importante a dizer eu não
faço por e-mail, uso outros meios, mas não sei se as outras pessoas são
igualmente cuidadosas", disse Amorim.
EMPRESAS
Sobre a denúncia de espionagem dos norte-americanos, segundo
Paulo Bernardo, o que mais preocupa o governo é a possibilidade de empresas
brasileiras terem repassado informações sigilosas e a existência de uma base
dos EUA de coletas de dados no Brasil.
"Acho difícil que as empresas brasileiras estejam
envolvidas nisso porque teria vazado antes. Mas, se houve participação, o
inquérito [da Polícia Federal] vai responder. Não temos nenhum fato além da
noticia do jornal que mostram isso", disse o ministro.
No entanto, ele admitiu que teles nacionais com convênios
com companhias estrangeiras expõe dados porque passam por portões
internacionais, via cabos submarinos ou satélites. O custo relacionado ao
trânsito internacional entre computadores para empresas brasileiras é de US$
650 milhões por ano.
Paulo Bernardo ponderou, contudo, que as empresas
brasileiras jamais vão admitir que colaboraram com o esquema de espionagem dos
EUA. "Não vão dizer que cometeram crime", disse.
Para diminuir a vulnerabilidade do Brasil, está prevista a
contratação de um satélite geoestacionário de defesa de comunicações
estratégicas com lançamento marcado para 2015 e que será operado pelas Forças
Armadas.
De acordo com ministro, o satélite evitará que o tráfego de
comunicações governamentais saia da esfera do governo. O Brasil discute ainda a
construção de cabos submarinos próprios para a África e Europa e de um anel
ótico para a América do Sul.
No campo internacional o Brasil defende descentralizar das
mãos dos EUA a governança da internet. (Folha de SP)
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