sexta-feira, 19 de julho de 2013

Nos discursos de vários políticos norte-americanos são comuns as alusões delirantes a Jesus e a Deus. O fanatismo religioso também move colonos judeus ortodoxos, que ocupam terras palestinas.

Milton Hatoum nasceu em Manaus, 19 de agosto de 1952 é escritor, tradutor e professor, é considerado hoje um dos grandes escritores vivos do Brasil. 
O poeta palestino Tamim Al-Barghouti foi um dos ausentes da Festa Literária Internacional de Paraty deste ano. Ele ia participar da mesa Literatura e Revolução, mas um levante popular no Egito e o extravio de um passaporte impossibilitaram a viagem do poeta ao Brasil.
Eu estava curioso para ouvir um poeta que participou ativamente da Primavera Árabe no Cairo, no ano passado. O escritor egípcio Alaa Al Aswany afirmou que a revolução de 2011 - que resultou na deposição e prisão do ditador Hosni Mubarak - foi roubada pela Irmandade Muçulmana. Segundo Aswany, "o governo do presidente Mohamed Morsi quis dominar tudo em nome de Deus". O escritor resumiu sua visão do governo Morsi e da Irmandade Muçulmana com esta frase: "A democracia não é um livro sagrado". (O Estado de S. Paulo, Aliás, 7/7/2013.)
A intromissão dos dogmas religiosos na política é uma das graves questões da maioria dos países islâmicos. Mas alguns líderes ocidentais também recorrem à religião para justificar decisões importantes. George W. Bush falou em "cruzada" antes de ordenar a invasão do Iraque. Depois de corrigir o lapso, o ex-presidente dos Estados Unidos usou o falso pretexto de destruir armas químicas no Iraque para invadir e destruir esse país árabe, causando milhares de mortes e aguçando o sectarismo religioso. Continue lendo...
Nos discursos de vários políticos norte-americanos são comuns as alusões delirantes a Jesus e a Deus. O fanatismo religioso também move colonos judeus ortodoxos, que ocupam terras palestinas. Em 1995, um desses fanáticos de extrema-direita assassinou o ex-primeiro-ministro de Israel Yitzhak Rabin, que parecia disposto a negociar um acordo de paz com a Autoridade Nacional Palestina.
Religiosos fundamentalistas podem cometer atrocidades em Estados considerados laicos ou parcialmente seculares. Uma das coisas nocivas na política brasileira é justamente o crescimento de certos partidos religiosos, que estão plantando uma semente fundamentalista na política do País. Nesse sentido, a leitura ao pé da letra da Bíblia e do Corão é uma ameaça a qualquer sociedade democrática.
Dogmas religiosos não podem prevalecer sobre avanços e descobertas científicos, comportamento sexual, decisões de foro íntimo e normas de convivência social. Quando isso acontece, as instituições republicanas - incluindo o Poder Judiciário - são enfraquecidas.
No caso do Egito, convém lembrar que o vice-presidente do partido da Irmandade Muçulmana é o líder da comunidade evangélica egípcia. Suas posturas fundamentalistas são bastante criticadas pelos cristãos coptas (Igreja Ortodoxa). Ao contrário dos evangélicos, os coptas sempre apoiaram a proposta de um Estado secular.
Essa é uma das tantas razões da recente revolta no Egito: uma das maiores manifestações populares da história moderna, que culminou com a deposição de um presidente eleito democraticamente.
Para Maged El Gebaly, tradutor e professor da Universidade Ain Shams (Cairo), "Morsi estava planejando um golpe de Estado contra as tradições modernas no Egito. Ele (Morsi) usava a palavra 'diálogo' para a imprensa estrangeira, mas só dialogava com os partidos religiosos e excluía totalmente as forças seculares do processo político".
Maged lembra que em junho deste ano 22 milhões de egípcios solicitaram ao Tribunal Constitucional a anulação das eleições no país. O Tribunal invalidou as eleições para o Senado e para a Assembleia Constituinte, alegando que os membros da Irmandade Muçulmana haviam sido eleitos ilegalmente.
Os manifestantes exigem o fim da perseguição aos opositores da Irmandade, novas eleições e uma constituição sem leis religiosas. No fundo, exigem um Estado laico e a construção de uma cidadania plena num país marcado por profundas desigualdades sociais. Exigem também o fim da tutela do governo norte-americano, que, durante décadas, forneceu apoio financeiro e militar à ditadura de Mubarak.
Na língua árabe a palavra "sawra" significa revolução, revolta, levante, rebelião. Quando se trata de uma verdadeira transformação política, econômica e social de um país, historiadores e intelectuais preferem usar a expressão "revolução social" ou "processo revolucionário". Talvez isso esteja ocorrendo no Egito. A revolta atual - que uns chamam de golpe de Estado, e outros de retomada da revolução - não se sabe quando nem como vai terminar. O que acontecer nesse país - o grande farol do mundo árabe - certamente influenciará a política no mundo árabe. Mas o curso da História é imprevisível.

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