TRIBUNAL É PRESSIONADO PARA NÃO JULGAR CONTAS
Norma aprovada no ano passado impede a procrastinação dos
processos
O Liberal - ORM
Além da má-aplicação dos recursos públicos, a força-tarefa
revelou ainda outro problema: mesmo nos dias de hoje é grande a pressão para
que a apuração destes casos não siga adiante. "A recuperação deste passivo
é um processo difícil, que envolve interesse de muitas pessoas, quando
colocamos um processo desses na pauta, um exército de advogados aparece para
procrastinar mais ainda. Sofremos todo tipo de interferência, de pessoas que tem
interesse que a coisa permaneça parada, mas só que esta cultura acabou. Já há
um convencimento dos conselheiros que não tem como ficar como está",
afirmou o presidente do TCE, Cipriano Sabino.
Para tentar evitar a procrastinação, no ano passado a Corte aprovou
uma norma que impede que estes processos que já estão prontos para julgamento
sejam retirados de pauta sem justificativa por escrito do presidente ou do
corregedor.
O corregedor do TCE, conselheiro Ivan Cunha, que coordena
este trabalho de redução do passivo processual, explicou que durante o mutirão,
sua equipe se deparou ainda com várias situações, como, por exemplo, processos
esvaziados, documentos perdidos dentro do próprio Tribunal ou também fortes
indícios de tráfico de influência.
"Tinha processos parados que apenas bastava uma
autoridade maior dizer o seguinte: ‘cite-se’, esta expressão, ninguém citava,
ou então ‘remeta-se à Procuradoria da Fazenda Estadual’, ninguém mandava,
porque o interessado poderia ser inconvenientemente molestado e não se podia
molestar aquele cidadão que devia ao Estado. Algum interesse escuso, uma força
oculta dizia não mande o processo para Procuradoria da Fazenda Pública, não
cite-se o elemento. Eu tomei susto quando via o ‘cite-se’ de janeiro de 1990 e
o processo me foi entregue em 2011", afirmou.
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Cunha explica, no entanto, que neste período, a corregedoria
não recebeu qualquer denúncia oficial sobre ex-conselheiros ou servidores da
Corte de Contas. "Não estamos acusando conselheiro A, B ou C do passado.
Se eu soubesse, acusava. Mas o que estou dizendo é que houve um relaxamento no
trabalho, por isso que ficou assim. Se houve interesse, não sei. Não é difícil
descobrir, mas eu não quero acusar. Até porque não beneficiava o Tribunal em
nada. É uma vergonha, mas agora acabou", afirmou o corregedor.
Ele explica que no caso dos processos esvaziados, as ações
tiveram de ser reconstituídas após dez anos, convocando as partes interessadas
por meio de edital, realizando diligências, e refazendo o processo. Foi o caso,
por exemplo, de duas ações de pensões do Instituto de Assistência aos
Servidores do Estado do Pará (Iasep), de 1999, julgadas na sessão de 21 de
novembro de 2012. Outros três casos, de prestações de contas da Companhia de
Saneamento do Pará (Cosanpa), dos exercícios de 2000 e 2002, e da Secretaria
Estadual de Educação (Seduc), exercício de 1998, estão sendo reconstituídas
para voltar à tramitação normal.
"Este passivo é muito mais do que se lê na planilha.
Vou dar um exemplo claro disso: aqui no ano de 1999, de um passivo de 46
processos, demos 43 processos pareceres e sobraram estes três que não
conseguimos reconstituir. Sumiram. Não tem nem indícios dele, se desmaterializou
e isso está prejudicando zerarmos esta planilha", afirmou.
Porém, ele diz que o foco, neste momento, não é procurar
culpados, mas fazer andar a pauta de julgamentos. "É uma vergonha estes
processos terem ficado parados tanto tempo. A inspeção extraordinária é
determinada unilateralmente pelo Tribunal via resolução, mas o inspecionado
também tem interesse. Se parou o processo, porque o inspecionado não procurou o
tribunal? Onde está esta culpa que não foi solidária?", afirmou o
corregedor, ressaltando que já deixou para seu sucessor, o conselheiro André
Dias, mais de 113 processos resgatados e prontos para vir à pauta.
O presidente do TCE, Cipriano Sabino, também sai na defesa
da Corte. "Estou aqui há cinco anos, percebo que antes não tinha este
cuidado, este compromisso, mas a partir de agora temos vários projetos em
andamento, inclusive, esse de zerar o passivo de processos. Não temos como
levantar e apurar responsabilidade sobre o que aconteceu em 1990, são situações
em que sinceramente assumo a condição de reconhecer que isso é realmente uma
vergonha para um Tribunal do Pará ou para qualquer Tribunal de Contas do país.
É impossível ter uma situação dessas, é uma vergonha. Mas a partir deste
momento, se está cuidando para que os prazos sejam cumpridos e situações como
estas não se repitam", afirmou.
Para 2013, o TCE tem ainda pela frente 8.995 processos para
serem julgados. Destes, três referentes a 1999; dois de 2001; um de 2002;20 de
2003; 37 de 2004; 150 de 2005; 310 de 2006; 782 de 2007; e outros 7690 ainda no
prazo regular de tramitação. (O Liberal)
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