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Rosiska Darcy de Oliveira é carioca, pesidente-executiva do
Rio como Vamos, escritora e jornalista.
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O tráfico de drogas, essa próspera e diabólica
multinacional, se alicerça em uma premissa simples: conquistar consumidores
tornando as pessoas dependentes, destruindo-as, reduzindo a zero seu poder de
decisão e transformando-as em clientes cativos de um mercado ilegal.
Quem tem em casa um dependente de drogas conhece o calvário em que mergulham a vítima e a família devastada. Daí o medo e o silêncio das famílias e o horror da sociedade. Só que o medo nunca foi bom conselheiro. Inspira as reações mais disparatadas e ineficazes, ainda que humanamente compreensíveis. Na ausência de debate, o silencio congela as soluções.
Um homem chamado José Júnior, sem medo, fez aposta inversa à do tráfico: é possível reconstruir uma pessoa, mesmo um ex-traficante, dar-lhe uma segunda oportunidade, oferecendo-lhe um sentido para a vida. Não há maior desafio à lógica implacável do tráfico. Não por acaso a sede do AfroReggae, no Complexo do Alemão, foi metralhada, e todos que estimam seu fundador temem pela sua segurança. O maior mérito de José Júnior terá sido demonstrar que a luta contra o tráfico vai muito além da óbvia ação policial.
Em boa hora nasceu e está crescendo na sociedade um movimento espontâneo em defesa da vida de José Júnior e da política de pacificação que vem se mostrando preciosa para a o Rio, libertando os territórios ocupados. Para que as UPPs continuem sendo portadoras de esperança é essencial que a polícia esclareça o que aconteceu com Amarildo Dias de Souza, prestando contas à sua família e a nós todos. Desaparecimentos e mortes obscuras nos remetem aos tempos de pesadelo que precederam a pacificação. Continue lendo...
Na infame prisão feminina do Carandiru, Quem tem em casa um dependente de drogas conhece o calvário em que mergulham a vítima e a família devastada. Daí o medo e o silêncio das famílias e o horror da sociedade. Só que o medo nunca foi bom conselheiro. Inspira as reações mais disparatadas e ineficazes, ainda que humanamente compreensíveis. Na ausência de debate, o silencio congela as soluções.
Um homem chamado José Júnior, sem medo, fez aposta inversa à do tráfico: é possível reconstruir uma pessoa, mesmo um ex-traficante, dar-lhe uma segunda oportunidade, oferecendo-lhe um sentido para a vida. Não há maior desafio à lógica implacável do tráfico. Não por acaso a sede do AfroReggae, no Complexo do Alemão, foi metralhada, e todos que estimam seu fundador temem pela sua segurança. O maior mérito de José Júnior terá sido demonstrar que a luta contra o tráfico vai muito além da óbvia ação policial.
Em boa hora nasceu e está crescendo na sociedade um movimento espontâneo em defesa da vida de José Júnior e da política de pacificação que vem se mostrando preciosa para a o Rio, libertando os territórios ocupados. Para que as UPPs continuem sendo portadoras de esperança é essencial que a polícia esclareça o que aconteceu com Amarildo Dias de Souza, prestando contas à sua família e a nós todos. Desaparecimentos e mortes obscuras nos remetem aos tempos de pesadelo que precederam a pacificação. Continue lendo...
Na Colômbia, país que mais sofreu com o narcotráfico, o presidente Juan Manoel Santos perdeu essa ilusão. Sentiu — e a expressão é dele — que pedalava uma bicicleta que não saía do lugar. Colocou na pauta da Cúpula das Américas um debate sobre a política de drogas que levou à conclusão que muda tudo: o dependente não é um criminoso a ser perseguido, é um paciente a ser tratado. O relatório encomendado pelos chefes de Estado à OEA foi ainda mais longe, evocando a legalização da produção, venda e uso controlado da maconha, droga cujos efeitos seriam menos nocivos do que os do álcool e do tabaco.
Ecoando o relatório, o presidente José Mujica, do Uruguai, na semana passada, apoiou a aprovação pela Câmara dos Deputados da “lei de regulação responsável” da maconha, que, saindo da ilegalidade, passa a estar sujeita às restrições e regulações que o Estado e a própria sociedade impõem.
Mujica deu prova de bom senso. O extraordinário recuo do consumo de tabaco no mundo todo só foi possível porque o tabaco, não sendo proibido, podia ser regulado: taxação por impostos altíssimos, proibição de fumar em lugares públicos, interdição de publicidade, obrigação de estampar no produto o mal que ele faz. Um maço de cigarros que já foi para os fumantes a antecipação de um prazer virou um objeto macabro. Foi-se o glamour do cigarro. Escolas aderiram à prevenção e não foram poucas as crianças que puxaram a orelha dos pais fumantes.
Uma política de drogas inteligente combateria o consumo via um esforço concentrado de informação e dissuasão, já que, enquanto houver demanda, haverá oferta, e ampararia os que já pisaram na armadilha, acolhendo-os e tratando-os, revertendo o processo que os transforma em dejetos humanos.
É o que faz a Suíça, que investe na prevenção, oferece tratamentos de substituição, incluindo o polêmico fornecimento controlado de drogas aos dependentes, e reserva uma repressão severíssima para o crime organizado. É assim que corta o elo de dependência entre as vítimas e os traficantes.
Ruth Dreifuss, ex-ministra da Saúde, que concebeu essa política, mais tarde a primeira mulher a presidir a Suíça, dá uma lição de compaixão ao lembrar que “os drogados são nossos próprios filhos, pessoas que amamos, que estão sofrendo, ameaçados pela doença, pela desintegração social, pela morte”.
Prevenção é responsabilidade de todos, dependência é um problema de saúde pública, tráfico é um caso de polícia. De uma polícia competente e honesta.
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