Uma improvável guerra entre Coreia do Norte e Estados Unidos
não será a primeira. Em 1950
a Coreia do Norte cruzou o Paralelo 38, que separava as
duas Coreias desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e invadiu o Sul. As Nações
Unidas autorizaram uma intervenção de forças aliadas para conter a invasão. As
"forças" eram quase 100% americanas, comandadas pelo folclórico
general Douglas MacArthur, que tinha se destacado, no Pacífico, como um dos
generais-celebridades da Segunda Guerra, junto com Patton, na Europa, e
Montgomery e Rommel, no Norte da África. No fim da guerra MacArthur fora
instalado pelo presidente americano Truman como vice-rei do Japão, onde, entre
outras coisas, instituiu uma reforma agrária de fazer o Stédile salivar, e
comandou suas tropas na Coreia sem sair de Tóquio.
A Guerra da Coreia também revelou um estrategista militar de primeira ordem:
eu. As coisas não iam bem para os coreanos do Sul e os americanos, encurralados
na ponta extrema da península. Apesar da pouca idade eu me interessava pela
guerra. Estudei meus mapas e conclui que uma maneira de romper o sítio seria
fazer um desembarque anfíbio como os que os americanos tinham feito em ilhas
japonesas e, com tropas aliadas, nas praias da Normandia durante a Segundona,
atrás das linhas inimigas. Cheguei a escolher o lugar do desembarque: Inchon,
na costa leste. E foi exatamente onde ocorreu o ataque, dias depois. Não
concluí que meu plano havia sido recebido telepaticamente pelo MacArthur, que
não tinha pensado nisso. Minha megalomania não chegava a tanto. Mas,
coincidência ou não, a estratégia deu certo. O Sul rompeu o cerco e perseguiu o
Norte para além do Paralelo 38, até a fronteira com a China. Continue lendo...
Douglas MacArthur (por falar em megalomania) foi o mais perto que um moderno
general americano chegou de ser golpista. Com a aproximação dos americanos da
sua fronteira, os chineses tinham entrado na guerra, e a grande questão do
momento era se os americanos deveriam ou não atacar o outro lado do Rio Yalu,
que marcava a fronteira entre Coreia e China. MacArthur queria não apenas levar
a guerra para o território chinês como usar armas nucleares. Sua insubordinação
- negou-se a ir a Washington falar com o presidente sobre o que fazer com os
chineses, tiveram que marcar a reunião num local escolhido por ele - levou
Truman a destituí-lo do comando. MacArthur voltou para casa como ídolo da
direita dura americana. É difícil imaginar que liderasse um movimento
anticomunista sedicioso, mas se havia alguém com perfil e disposição para isto
era ele. Preferiu despedir-se com um famoso discurso que terminava dizendo que
os velhos soldados nunca morrem, apenas desaparecem lentamente. E começou a
desaparecer.
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