MÁRIO COUTO VOLTA A ATACAR A FPF E DIZ QUE POSSUI GRAVAÇÕES
DE ÁRBITROS NEGOCIANDO RESULTADO DE JOGO
O senador Mário Couto (PSDB-PA) apresentou nesta quinta
(18) na Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) o que considera provas
de que a empresa Rocha Romano, de propriedade do diretor técnico da Federação
Paraense de Futebol, Paulo Romano, se beneficia de dinheiro público, vindo do
governo do Estado, que deveria ser repassado para os clubes.
Couto esteve acompanhado do senador Ivo Cassol (PP-RO) e dos
deputados estaduais Cilene Couto (PSDB-PA) e Alfredo Costa (PT-PA). O último
foi o autor da proposta de instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) - que já tem assinaturas suficientes para sua abertura - para investigar
a FPF, os clubes e os patrocinadores do Campeonato Paraense. A FPF não
compareceu à reunião.
As denúncias feitas por Couto contra a FPF no plenário do
Senado motivaram a criação de uma Comissão Especial para investigar a entidade.
Ontem, Couto e Cassol, presidente e relator, respectivamente, representaram o
Senado.
O senador paraense fez denúncias sobre o suposto esquema de
corrupção na FPF, que disse acontecer em várias instâncias. A denúncia mais
grave envolve a agência de viagens Rocha Romano, que, segundo Couto, organiza
um sistema de crédito na FPF. O esquema funcionaria da seguinte forma: a
empresa venderia passagens para os clubes e descontaria a dívida do dinheiro
que repassa aos clubes. O dinheiro em questão seria de ordem pública, chegando
à FPF via contratos com a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Seel),
Funtelpa e Banpará. Continue lendo...
Para comprovar a denúncia, o senador apresentou um documento
que detalha a venda de passagens para membros da delegação do Santa Cruz pela
Rocha Romano, e disse que o próprio Romano confessou a irregularidade em
matéria veiculada no blog do radialista José Maria Trindade. "É um
escândalo e não tem saída. Está assinado em baixo do que fez. Quando o governo
passa o cheque, ele (Romano) desconta o que os clubes devem à empresa e devolve
o resto. O dinheiro chega aos clubes ‘castrado’. E no blog ele admite. Diz que
‘só ganha R$ 30 mil’. Até abril ele terá ganhado R$ 300 mil", disse,
garantindo que não há prestação de contas. "Isso é o suficiente para irem
para a cadeia", afirmou. Couto disse ainda que os clubes são forçados a
aceitar as passagens da empresa Rocha Romano, de outra forma "não
viajam", embora não tenha detalhado como acontece esta suposta abordagem.
Couto esmiuçou o que seria o "modus operandi" da
FPF. "Eles (FPF) aliciam os clubes. Foram a Cuiarana (o presidente da FPF,
Antonio Carlos Nunes, e Paulo Romano) e perguntaram quem estava fazendo a obra
do estádio. Disseram que fariam mais barato. Fazem conveniência e depois
oferecem facilidades. Ele (Romano) já estava mandando nas obras do estádio do
Santa Cruz. E depois disse que nunca foi lá", disse. O senador disse ainda
possuir gravações também de árbitros de futebol oferecendo-se para manipular
resultados a preços que variavam de acordo com a importância do jogo. "Não
posso mostrar a gravação, que é bem nítida, ainda. Mas será uma bomba",
disse.
O deputado estadual Alfredo Costa afirmou que já conseguiu
colher assinaturas suficientes para a abertura de uma CPI para investigar o
futebol paraense. Como autor do requerimento, ele afirma já ter protocolado o
pedido, e agora espera o presidente da mesa diretora, deputado Márcio Miranda
(DEM-PA), encaminhar um ofício para os líderes de cada bancada, para que
indiquem os membros da CPI, que terá sete integrantes, mais suplentes. As
maiores bancadas terão maior número de representantes.
FPF justifica ausência e afirma que só comparece se for à
CPI
A FPF justificou a ausência na reunião por intermédio de seu
assessor jurídico, Antonio Cristino Mendes, que afirmou não haver
obrigatoriedade em comparecer, uma vez que comissão presidida pelo senador
Mário Couto não tem o objetivo de apuração. Sobre as denúncias, Mendes afirmou
que a FPF as repudia, e que as acusações carecem de provas.
Em defesa da FPF, ele afirmou que cada contrato de
patrocínio do Campeonato Paraense é assinado só quando o contrato anterior é
"perfeitamente encerrado", e garantiu que a FPF devolveu dinheiro
para a Seel ao término do contrato feito para o Parazão de 2012.
O assessor jurídico disse que a FPF comparecerá à convocação
do Senado Federal se for feita por meio de uma CPI, e que a ausência na reunião
de ontem havia sido comunicada. "À luz do regimento interno do Senado, nas
disposições contidas do artigo 67 até o 70, vislumbramos que a finalidade da
comissão de representação não é apuração. Esperamos o chamamento em nível
federal e estadual, onde estejamos junto com clubes e os patrocinadores, onde
todos possam externar tudo que se passa na questão do campeonato", disse.
Patrocinadores desconhecem supostos desvios de verbas
A reportagem consultou a Seel, a Funtelpa e o Banpará sobre
as verbas públicas investidas no Campeonato Paraense de Futebol. A Seel, por
meio de uma nota oficial, afirmou que o convênio feito com a FPF vigora desde
2011 e tem o objetivo de "fomentar o esporte através do Campeonato
Paraense de Futebol, trazendo para as disputas não somente o Remo e o Paysandu,
mas sobretudo os times do interior do Estado", promovendo a integração
entre a capital e o interior do Estado. "A Seel ressalta que a Federação
Paraense de Futebol presta suas contas para o Tribunal de Contas do Estado -
TCE, órgão competente que avalia e julga o gasto de verbas públicas. A
prestação de contas também é feita, através do envio de cópias à própria Seel e
analisada no Departamento de Controle Interno. Informamos, ainda, que a FPF vem
cumprindo normalmente o convênio, cujo objetivo é o fomento ao futebol
profissional em todo o Estado do Pará", disse a nota.
A presidente da Funtelpa, Adelaide Oliveira, ressaltou que a
autarquia investe no futebol paraense - exercendo a compra dos direitos de
imagem do Parazão - e não na FPF. "A FPF repassa o dinheiro aos clubes, já
que possui as certidões negativas de débito exigidas por contrato", disse,
explicando que as dívidas - em sua maioria trabalhistas - dos clubes impede o
repasse direto. Adelaide disse que o valor do contrato está em torno de R$ 2,5
milhões, distribuídos segundo meritocracia. Ela informou ainda que a FPF não é
contemplada com nenhum percentual financeiro do contrato, e afirmou desconhecer
desconto de qualquer tipo no repasse da verba da FPF para os clubes.
O Banpará se manifestou por meio de sua assessoria de
imprensa, que após consultar o diretor presidente do banco, Augusto Costa,
afirmou que a FPF mantém prestação de contas atualizada da verba repassada,
sendo a última atualização datada do último mês de março.
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